Como tratar a endometriose, doença que afeta até 10% das mulheres brasileiras em idade fértil?

O Hospital e Maternidade Christóvão da Gama (HMCG), que faz parte da maior rede de saúde integrada do Brasil, a Dasa, inaugurou, no início de agosto de 2022, um núcleo exclusivo para o diagnóstico e tratamento para endometriose – doença que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva no Brasil, segundo os dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No mundo todo, ela atinge cerca de 176 milhões de mulheres. O Dr. Raphael Garcia Moreno Leão, que é o coordenador da área de ginecologia e obstetrícia do Hospital, explica que o núcleo de endometriose do HMCG foi criado para proporcionar um acolhimento completo para as mulheres que sofrem com a doença.

 

Mas, o que é a endometriose?

Endometriose é uma doença ginecológica crônica, benigna e de natureza multifatorial que acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva. Pode ser definida pela presença de tecido endometrial fora do útero, podendo provocar vários sinais e sintomas, tais como:

  • Dor pélvica crônica;
  • Dor ao menstruar (dismenorreia);
  • Dor durante relações sexuais (dispareunia de profundidade);
  • Inchaço abdominal;
  • Dor ao defecar;
  • Alterações urinárias no período menstrual;

 

Em relação à infertilidade, ela pode tanto acontecer em decorrência da doença como ser um fator de risco. O Dr. Raphael conta que “entre 25% a 50% das mulheres inférteis são portadoras de endometriose, enquanto 30% a 50% das que têm endometriose apresentam infertilidade. É uma doença que afeta muito negativamente a vida da mulher, atrapalhando no trabalho, na vida social e na vida conjugal, podendo levar a quadros de ansiedade e depressão”.

 

O que motivou a criação do núcleo de endometriose do HMCG e quais serviços ele oferece?

O Dr. Raphael conta que, ao longo dos anos, se observa que “as pacientes com endometriose da região do ABC têm dificuldade de encontrar serviços que resolvam o problema delas. Elas ficam anos pulando de médico em médico sem diagnóstico e sofrendo com as dores da endometriose”. O atraso no diagnóstico, aliás, não se restringe à região do ABC paulista, onde fica o HMCG. No Brasil, o tempo que leva desde o início dos sintomas até o diagnóstico é, em média, de quatro anos no caso de mulheres com infertilidade e de 7,4 anos para as que têm dor pélvica.

O núcleo de endometriose do HMCG foi criado para oferecer atendimento com médicos especializados e com grande experiência na doença, explica o Dr. Raphael. “O Hospital conta com equipamentos de ponta para o tratamento cirúrgico da doença, além de urologistas, cirurgiões coloproctológicos e outros especialistas que dão o suporte a essas mulheres quando é necessário”.

“Temos, também, o suporte de equipe multidisciplinar com psicólogos, nutricionistas e outros profissionais, além do ambulatório de dor. Contamos, ainda, com radiologistas especializados para o diagnóstico de endometriose. Além disso, a paciente do núcleo de endometriose do HMCG é acompanhada por uma enfermeira navegadora específica, que estará em contato com ela durante todo e tratamento, auxiliando no que for necessário, e também por seis meses, no mínimo, após a alta”.

Quais os fatores de risco da endometriose?

A endometriose é considerada uma doença multifatorial e pode acontecer a partir de uma combinação de fatores de risco, como:

  • Hereditariedade – mulheres que têm parentes de primeiro grau – irmãs, mãe ou filhas – com endometriose possuem mais chances de desenvolver a doença;
  • Gestação após os 30 anos de idade;
  • Ausência de gestação;
  • Primeira menstruação precoce;
  • Ciclos menstruais curtos, menores que 27 dias, e/ou com fluxo intenso e duração maior que oito dias;
  • Poluição ambiental.

 

Como é feito o diagnóstico da endometriose?

O Dr. Raphael explica que a suspeita do diagnóstico da endometriose começa com o relato dos sintomas característicos, associado ao exame físico. Mas, para confirmar a presença da doença e determinar o estadiamento, é necessário realizar alguns exames. São eles:

 

Ultrassom pélvico – o exame capta imagens em tempo real e permite que o médico avalie os ovários, trompas uterinas, endométrio e útero.

 

Ultrassom transvaginal com preparo intestinal – o preparo é necessário para que o médico possa avaliar se há focos de endometriose na região do intestino. A paciente deve seguir um preparo que inclui uma dieta leve no dia anterior ao exame e tomar um medicamento que ajude na limpeza intestinal.

 

Ressonância magnética (RM) – é um exame que fornece imagens mais detalhadas e precisas. A RM pode detectar a endometriose em fase inicial e também ajudar o médico a acompanhar a evolução da doença.

 

Existe tratamento para endometriose?

“O tratamento para endometriose deve ser individualizado, pois as pacientes têm diferentes realidades. A abordagem pode ser clínica ou cirúrgica”, diz o Dr. Raphael.

 

Tratamento clínico para endometriose – “é eficaz no controle da dor pélvica e deve ser o tratamento de escolha na ausência de indicações para cirurgia. O principal objetivo do tratamento clínico é o alívio dos sintomas de dor e a melhora da qualidade de vida. Para isso, o especialista pode receitar progestagênios, um hormônio sintético com propriedades semelhantes à progesterona produzida pelos ovários, ou pílulas anticoncepcionais combinadas”, explica o médico.

  • Hábitos de vida saudáveis, como alimentação balanceada, controle do peso e prática regular de atividade física com orientação profissional são essenciais para o sucesso no tratamento para endometriose;
  • Terapias complementares, como a fisioterapia e psicoterapia, podem ser indicadas para ajudar no manejo da dor e convívio com a endometriose no dia a dia.

 

Tratamento cirúrgico para endometriose – “está indicado quando o tratamento clínico for ineficaz. O objetivo da cirurgia é remover completamente todos os focos de endometriose, restaurando a anatomia e preservando a função reprodutiva”, diz o Dr. Raphael.

  • É indicado que a cirurgia seja realizada por videolaparoscopia, abordagem minimamente invasiva que proporciona mais precisão ao médico e recuperação mais rápida à paciente;
  • No caso de pacientes inférteis, o tratamento para endometriose deve considerar quadro clínico, idade, sintomas, tempo de infertilidade e presença de outros fatores de infertilidade.

 

Como funciona o fluxo de atendimento no núcleo de endometriose do HMCG?

As pacientes podem chegar ao núcleo de endometriose do HMCG de várias maneiras, conta o Dr. Raphael. “Através de demanda espontânea, pelo ambulatório, pelo pronto socorro do Hospital ou, ainda, por encaminhamento de médicos. Em relação às pacientes que são atendidas e tratadas no núcleo de endometriose por encaminhamento de médicos externos, esses profissionais recebem atualizações periódicas sobre o tratamento. Quando termina, as pacientes são encaminhadas de volta para eles”.

 

As pacientes são cuidadas por profissionais de saúde de diversas áreas:

  • Ginecologistas;
  • Coloproctologistas;
  • Cirurgiões gerais;
  • Urologistas;
  • Clínicos;
  • Radiologistas;
  • Anestesistas;
  • Enfermeiras;
  • Psicólogos;
  • Nutricionistas;
dr raphael leao

Dr. Raphael Garcia Moreno Leão é médico especialista em ginecologia e obstetrícia pela FEBRASGO, com especialização em videolaparoscopia e videohisteroscopia pela FEBRASGO. É coordenador da ginecologia e obstetrícia do Hospital e Maternidade Christóvão da Gama.

Este conteúdo é meramente informativo e educativo, sendo destinado para o público em geral. Ele não substitui a consulta e o aconselhamento com o médico e não deve ser utilizado para autodiagnóstico ou automedicação. Se você tiver algum problema de saúde ou dúvidas a respeito, consulte um médico. Somente ele está habilitado fazer o diagnóstico, a prescrever o tratamento mais adequado para cada caso e acompanhar a evolução do quadro de saúde do paciente.
Testemunhos

Gostaríamos de agradecer ao Dr Pierry Louys Batista, em nome de todos os pediatras, toda equipe assistencial, de atendimento, segurança, higiene e do laboratório Delboni, pois percebemos que houve a verdadeira hospitalidade que todos falam, mas poucos exercem: a de fora dos livros.

Gustavo Ambrósio Tenório

Equipe de enfermagem muito bem preparada, atenta e disponível para qualquer chamado. Muito educada e cordial também, por exemplo, sempre ao entrar no quarto os enfermeiros avisavam meu pai que a luz seria acesa, não acendendo diretamente na “cara” da pessoa, que estava despreparada.

Antônio Rafael de Carvalho