Diagnóstico precoce é a principal estratégia para combater o câncer de mama
O câncer de mama é o tipo de tumor mais frequente em mulheres no Brasil e no mundo, excluindo-se o câncer de pele não-melanoma. Se descoberto no início, a chance de cura é superior a 90%. Os dados revelam a importância de conscientizar a população feminina sobre estratégias de prevenção e detecção precoce do câncer de mama, que são as maiores aliadas na redução da mortalidade pela doença. Para falar sobre o tema, o Grupo Leforte convidou o Dr. Fábio Nogueira Liguori Alves, ginecologista oncológico e responsável pelo setor de oncologia pélvica e mastologia do Hospital Maternidade Christóvão da Gama.
CÂNCER DE MAMA – o que é câncer de mama? Ele é comum?
DR. FÁBIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – o câncer de mama é um tumor que acomete as mamas, não só de mulheres como também de homens, embora neles a doença seja bem menos frequente: apenas 1% de todos os tumores de mama são masculinos.
Entre os tumores ginecológicos, o de mama é o de maior incidência. E, de todos os tumores que acometem as mulheres, ele é o segundo mais frequente, só perdendo para o câncer de pele. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) prevê mais de 66 mil novos casos de câncer de mama para o ano de 2021, com quase 18 mil mortes relacionadas a esse tumor.
CÂNCER DE MAMA – existem vários tipos de câncer de mama? Quais são os mais comuns em ordem de frequência e as características de cada?
DR. FÁBIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – existem diversos tipos de tumores de mama, classificados de acordo com a localização – se é na região do ducto da mama ou na região lobular da mama ou, ainda, se acomete outras estruturas – e, também, de acordo com o potencial de agressividade.
Se é um tumor em paciente jovem, o risco, geralmente, é um pouco maior. É um câncer mais agressivo, de pior prognóstico. Mas, a grande maioria dos cânceres de mama, mais de 60% ou 65%, aparecem nas mulheres pós-menopausa, que já pararam de menstruar. Esses, geralmente, são um pouco menos agressivos, têm uma evolução melhor.
CÂNCER DE MAMA – o que pode aumentar o risco de desenvolver câncer de mama?
DR. FÁBIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – são considerados fatores de risco para o câncer de mama:
- Aumento da exposição ao hormônio estrógeno;
- Sobrepeso e obesidade;
- Sedentarismo, porque eleva as chances de obesidade;
- Exposição à radiação;
- Tabagismo.
Um outro fator de risco, esse de extrema importância, é o histórico familiar. Isso inclui:
- Ter um familiar de primeiro grau com histórico de câncer de mama, principalmente abaixo de 40 anos.
- Familiar com histórico de câncer de mama com pior prognóstico, com tumor bilateral de mama ou com tumor triplo negativo;
- Qualquer caso de familiar, independentemente do grau de parentesco, de câncer de mama masculino;
- Dois ou mais familiares, também não importando o grau de parentesco, com câncer de mama e/ou de ovário;
- Qualquer caso familiar de câncer de ovário.
CÂNCER DE MAMA – existem medidas que podem ajudar na prevenção do câncer de mama?
DR. FÁBIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – a prevenção do câncer de mama envolve métodos comportamentais e de saúde, tais como:
- Boa alimentação;
- Peso adequado;
- Atividade física habitual;
- Diminuição da exposição à radiação.
A amamentação também é um fator protetor. As mulheres que não amamentaram podem ter um pequeno risco aumentado de câncer de mama.
CÂNCER DE MAMA – quais são os sinais e sintomas mais comuns de câncer de mama?
DR. FÁBIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – o principal sintoma do câncer de mama é o aparecimento de nódulo. Geralmente, eles são endurecidos, fixos e regulares. É por isso que sempre estimulamos as mulheres a palparem regularmente a própria mama. Se a mulher está habituada a fazer isso, ela consegue detectar algo anormal o mais precocemente possível. Outros sintomas que podem surgir são:
- Vermelhidão da pele;
- Mamilo invertido (o mamilo se retrai e passa a apontar para dentro);
- Saída de secreção pelo mamilo, que pode ser sanguinolenta ou transparente (“água de rocha”).
CÂNCER DE MAMA – como pode ser feita a detecção precoce?
DR. FÁBIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – hoje, nós sabemos que o principal fator prognóstico para o câncer de mama é a detecção precoce. Isso significa que quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores as chances de sucesso no tratamento e na cura da paciente. Quando a doença é detectada no estágio inicial, a chance de cura é superior a 90%.
E como fazer esse rastreamento? A primeira coisa é detectar as pacientes com alto risco de câncer de ter mama, que são aquelas com histórico familiar, como mencionei anteriormente. Nesses casos, o rastreamento através de exames, principalmente a mamografia, deve começar mais cedo – geralmente 10 anos antes da idade em que o familiar teve câncer de mama.
Além disso, as pacientes consideradas de alto risco devem ser encaminhadas para uma avaliação genética para investigar a presença de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2. Mulheres que são diagnosticadas com uma mutação em qualquer um desses genes podem ter até 80% de chance de câncer de mama e 30% de chance de câncer de ovário. Elas também podem transmitir a mutação para seus descendentes.
Já para as pacientes que não tem esse histórico familiar e são consideradas de baixo risco, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde preconizam que o rastreamento com exames de mamografia comece a partir dos 50 anos, se estendendo até os 69 anos. Porém, as Sociedades de Mastologia, tanto internacional quanto brasileira, antecipam em 10 anos esse rastreamento. Elas recomendam que o exame de mamografia anual se inicie aos 40 anos.
CÂNCER DE MAMA – como é feito o diagnóstico em caso de suspeita da doença?
DR. FÁBIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – uma vez detectada alguma alteração mamária suspeita, seja no exame físico ou no exame de ultrassonografia, a paciente deve ser encaminhada para uma biópsia (remoção de uma amostra de tecidos ou células para posterior análise em laboratório). Se o resultado dessa biópsia apontar câncer, o próximo passo é descobrir qual é o estágio da doença para indicar o melhor tratamento naquele caso.
CÂNCER DE MAMA – como é feito o tratamento do câncer de mama, até em função dos estágios da doença?
DR. FÁBIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – após o diagnóstico de câncer de mama, existe um leque de opções para propor para a paciente:
Cirurgia – é possível começar com tratamento cirúrgico, tendo hoje a opção de cirurgia mais conservadora (chamada de quadrantectomia, que consiste na retirada do segmento ou setor da mama que contém o tumor) ou cirurgia mais radical (a mastectomia, que é a retirada de toda a mama). No procedimento, também podem ser removidos um ou mais linfonodos da axila, caso o tumor tenha se disseminado para essa região. Às vezes, no mesmo procedimento da retirada da mama doente, é possível já fazer a reconstrução da mama.
Quimioterapia – o tratamento do câncer de mama pode ter ainda abordagem da forma sistêmica com quimioterapia. Ela pode ser feita antes ou depois da cirurgia, a depender do tipo do tumor, das características dele, do grau de agressividade e do estágio em que a doença se encontra.
Radioterapia – é uma modalidade de tratamento que pode ser utilizada depois da cirurgia, visando diminuir a chance de recidiva do tumor local, na própria área da mama que está sendo tratada.
O Dr. Fábio Nogueira Liguori Alves é ginecologista obstetra, especializado em oncoginecologia, tendo atuado como: médico no setor de oncologia pélvica da Faculdade de Medicina do ABC; responsável pelo setor de oncologia pélvica do Hospital Estadual Mário Covas; responsável pela enfermaria cirúrgica do hospital Universitário de São Bernardo do Campo; e coordenador da residência médica da Faculdade de Medicina do ABC.
O Dr. Fábio é responsável pelo setor de oncologia pélvica e mastologia do Hospital Maternidade Christóvão da Gama, onde também atende pacientes no ambulatório nas segundas, quintas e sextas-feiras, na parte da tarde.
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