Mutação genética é um dos fatores de risco para câncer de ovário
O câncer de ovário é um dos tipos de câncer mais letais de câncer, sendo considerado uma doença silenciosa. Isso porque, na maioria dos casos, só há sinais e sintomas quanto está em estágio avançado. Entre os fatores de risco da doença está a mutação em determinados genes. Para falar sobre o assunto, o Grupo Leforte convidou o Dr. Fabio Nogueira Liguori Alves, que é ginecologista oncológico e responsável pelo setor de oncologia pélvica e mastologia do Hospital Maternidade Christóvão da Gama.
CÂNCER DE OVÁRIO – esse tipo de câncer é comum?
DR. FABIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – se analisarmos por ordem de frequência do acometimento das mulheres, o câncer de ovário é o sétimo ou oitavo entre todos os tipos de tumores. Mas, em relação aos tumores ginecológicos, ele é o quarto mais frequente. Na frente dele estão os cânceres de mama, do colo do útero e do endométrio.
O grande problema desse tipo de câncer é que ele tem um alto índice de fatalidade. Cerca de 70% de diagnóstico dos casos de câncer de ovário são feitos quando a doença já está em estágio avançado, ou seja, em estadiamento três ou quatro, o que acarreta consequências no prognóstico do tratamento.
E por que é importante a detecção precoce? Porque, infelizmente, não temos métodos eficientes de rastreamento e de prevenção. Diferentemente da mamografia – que permite fazer a prevenção e diagnóstico precoce de câncer de mama – e do Papanicolau para rastreamento e diagnóstico precoce do câncer do colo do útero, não temos um exame específico para rastreamento do câncer de ovário.
CÂNCER DE OVÁRIO – a doença é mais frequente em alguma faixa etária?
DR. FABIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – o câncer de ovário pode afetar mulheres de qualquer idade. Desde criança, adolescente, mulher no menacme – que é o período fértil da vida, em que ela menstrua -, até depois da menopausa. Porém, os tumores mais frequentes de câncer de ovário são pós menopausa.
CÂNCERDE OVÁRIO – algumas mulheres podem herdar uma predisposição genética para o câncer de ovário?
DR. FABIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – quando falamos de câncer de ovário, pensa-se muito na herança genética, na parte hereditária. Mas, de todos os casos desse tipo de câncer, só 30% tem uma relação com a hereditariedade ou com as chamadas mutações genéticas. Em 70% dos casos, nós não sabemos a causa e, infelizmente, ainda não se consegue detectar qual seria.
CÂNCER DE OVÁRIO – qual a mutação genética que pode predispor ao câncer de ovário?
DR. FABIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – dos 30% de casos de câncer de ovário que têm relação com síndromes genéticas, a mais conhecida e estudada é a síndrome das mutações dos genes BRCA1 e BRCA2 – que são de suma importância para o controle celular. Então, mulheres que têm defeitos nesses genes têm um risco maior de desenvolver doença do ponto de vista oncológico, pois elas possuem um defeito no controle celular.
Existem genes responsáveis pelo controle celular, dente eles, o BRCA1 e o BRCA2. Mulheres com mutação em um desses genes têm 30% de chance de desenvolver o câncer de ovário e até 80% de chances de desenvolver um câncer de mama. É o que chamamos de síndrome de câncer de mama e ovário.
Daí, a importância de tentarmos detectar as pacientes que têm risco dessas mutações. Porque, se isso acontecer, há uma chance de ter um impacto melhor em prevenir que ela tenha a doença. E quando suspeitar de uma família ou de uma mulher que tenha risco elevado de ter mutação genética? Quando eu conseguir detectar na anamnese da paciente alguns fatores que possam ser indicativos, ou seja:
- Quando a paciente tiver algum familiar com histórico de câncer de mama abaixo de 40 anos.
- Familiar com histórico de câncer de mama com pior prognóstico, com tumor bilateral de mama ou com tumor triplo negativo;
- Qualquer caso de familiar, independentemente do grau de parentesco, de câncer de mama masculino;
- Dois ou mais familiares, também não importando o grau de parentesco, com câncer de mama e/ou de ovário;
- Qualquer caso familiar de câncer de ovário;
- Se ela for descendente de judeus asquenazes, que é a população onde começou a mutação genética, o que aumenta o risco de ter também.
Então, se o médico detecta na anamnese da paciente que existe um alto risco, ela deve ser encaminhada para a realização do exame genético. Ou, então, para um médico geneticista avaliar se deve ser feito um exame mais simplificado ou estendido para a verificação de mutações genéticas.
CÂNCER DE OVÁRIO – qual o procedimento aconselhado para uma mulher que tem a mutação?
DR. FABIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – realizado o exame e se foi detectado que a mulher é portadora dessa mutação, frente ao risco de 80% de câncer de mama e 30% de câncer de ovário, o que deve ser feito? Não é necessário, de imediato, fazer a retirada das mamas e dos ovários dessas pacientes. Porque existe um outro dado importante na genética que se chama penetrância da mutação genética.
Com o BRCA1, a mulher começa a apresentar o aumento do risco de desenvolvimento da doença a partir dos 35 anos. Com o BRCA2, isso se dá a partir dos 42 anos. Um exemplo disso é o que trouxe essa discussão para a mídia, a atriz Angelina Jolie. Ela teve dois familiares com câncer de mama e de ovário e fez o exame de mutação genética, que mostrou ser portadora de BRCA2. Então, ela fez duas cirurgias.
A primeira cirurgia que ela fez, por volta dos 35 anos, foi a mastectomia. Ela postergou para retirar os ovários até alguns anos depois, pois queria ter os efeitos benéficos da ação estrogênica por mais tempo. A partir dos 40 anos, por ter BRCA2 positivo, o risco dela seria aumentado. Então, ela fez a cirurgia de retirada dos ovários.
Portanto, quando uma mutação dessas é detectada em uma paciente, é necessário avaliar a idade dela. Se estiver perto dos 35 anos e for BRCA1 positivo ou perto dos 40 e for BRCA2 positivo, já existe a chance de indicar essa cirurgia, que chamamos de cirurgia poupadora de risco.
Agora, se é detectado que na família existem portadores dessa mutação que são mulheres jovens – com 20 anos ou adolescentes, que ainda não tiveram filhos – a nossa responsabilidade é orientar essas pacientes para que elas resolvam até os 35 anos de idade essa parte de fecundidade. Ou ter filhos, ou congelar óvulos, ou congelar embriões, porque até essa idade o risco é baixo.
Então, a partir dos 35 anos, com a elevação do risco que ela tem de desenvolver essa doença por meio da mutação, está indicada a chamada cirurgia poupadora de risco.
CÂNCER DE OVÁRIO – quais os outros fatores de risco para o câncer de ovário?
DR. FABIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – quando falamos de câncer de ovário, o principal fator de risco é a herança genética, mas existem alguns outros. A obesidade pode ser um, embora de pequena parte desse processo. A própria ovulação causa uma cicatriz no ovário que pode aumentar um pouco o risco. Por isso que o uso de anticoncepcional diminui a chance de câncer de ovário, pois ele deixa os ovários em repouso.
Mas, se eu tiver que considerar todos os fatores, o de maior importância para tentar detectar e onde é possível ter uma conduta mais ativa em termos de prevenção é tentar diagnosticar risco de uma mutação genética.
CÂNCER DE OVÁRIO – como deve ser o acompanhamento médico para fazer o diagnóstico precoce de câncer de ovário?
DR. FABIO NOGUEIRA LIGUORI ALVES – é muito importante sempre fazer uma avaliação com o ginecologista para ele verificar se há fatores de risco, se há alguma suspeita que eleve a um patamar de risco para mutação genética e acompanhar por meio da história, de exame físico e até de alguns outros exames. Ou, então, fazer um acompanhamento ginecológico normal que possa fazer uma detecção o mais precoce possível por conta de alguma alteração que seja suspeita para um câncer de ovário.
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