Saúde digestiva e doença do refluxo gastroesofágico

O refluxo gastroesofágico é a popular azia, sensação de queimação, que acontece quando o líquido gástrico retorna ao esôfago, chamada de pirose. Cerca de um terço da população tem episódios esporádicos de refluxo; em 12 a 20% eles são mais frequentes e 5 a 7% sofrem com a doença de forma persistente, com 2 ou mais episódios por semana. Pensando na conscientização sobre doenças ou distúrbios digestivos, o Grupo Leforte preparou uma série de entrevistas sobre o assunto com o Dr. Tércio Genzini e os cuidados necessários durante a pandemia de Covid-19.

O Dr. Tércio é especializado em cirurgia do aparelho digestivo e coordenador da equipe que realizou o primeiro transplante de pâncreas isolado bem-sucedido no Brasil e do primeiro transplante simultâneo de pâncreas-rim no Estado de São Paulo.

Em 2009, o grupo coordenado pelo Dr. Tércio iniciou programas de transplantes de fígado, pâncreas e rim no Hospital Leforte Liberdade, e essa parceria resultou em um dos maiores serviços de transplantes de órgãos abdominais – fígado, pâncreas e rim – entre os hospitais privados do Brasil.

 

Dúvidas sobre refluxo gastroesofágico e o que fazer para tratá-lo

1. Quais são os sinais e os sintomas que podem indicar a presença de refluxo?
Os sintomas mais comuns da presença de refluxo são a queimação que sobe da boca do estômago para a garganta (pirose), e a regurgitação mas outros sinais e sintomas indicam o desenvolvimento da doença, como:

  • Dor no peito, às vezes confundida com infarto;
  • Palpitações;
  • Alterações nos dentes, como desgaste;
  • Tosse seca;
  • Pneumonia, bronquite e/ou asma com repetição
  • Disfonia, rouquidão, pigarro.

 

2. Se a pessoa tiver algum desses sinais ou sintomas, ela pode adiar procurar um médico em função do isolamento social provocado pelo Covid-19?
Apesar de parecer uma doença inofensiva, o refluxo não deve ser negligenciado. As paredes do esôfago não são preparadas para receber o suco gástrico e, por essa razão, ele pode causar lesões ou inflamações e alterar suas células do revestimento, levando a transformação da multiplicação e regeneração celular (atipias e metaplasias), que podem levar ao desenvolvimento de tumores. Então, os pacientes devem procurar um médico assim que perceberem os sintomas de refluxo para que o tratamento seja feito o quanto antes.

 

3. Quais as complicações que podem ocorrer em função do refluxo que não é tratado?
De acordo com o Dr. Tércio Genzini, as complicações da evolução de um refluxo podem ser das mais simples, como rouquidão, disfonia, tosse, até moderadas, como pneumonia, ou ainda mais graves, como o estreitamento da passagem do alimento do esôfago para o estômago (estenose) ou desenvolvimento de câncer na transição do esôfago para o estômago.
Ele alerta: “outra observação importante também é que sintomas de refluxo em pacientes com histórico familiar de câncer ou em pacientes com idade acima de 40 anos devem ser investigados para confirmação diagnóstica, com exames de endoscopia, importante para o diagnóstico precoce e orientação de tratamentos, ou pHmetria e manometria para avaliação objetiva da intensidade e duração do refluxo e sua relação com os sintomas”.

 

4. Qual o tratamento dado ao paciente com refluxo? O Dr. Tércio explica que na maior parte dos casos o tratamento é clínico e dividido em três frentes:
Orientações comportamentais – esperar duas horas após a última refeição antes de se deitar; não fumar; elevar a cabeceira da cama de 10 a 15 centímetros; perder peso, caso tenha sobrepeso ou obesidade, praticar atividades físicas.
Orientações alimentares – evitar bebidas alcoólicas, alimentos gordurosos, ácidos e/ou que contenham cafeína, principalmente antes de dormir; dividir as refeições em pequenas porções distribuídas ao longo do dia.
Medicamentos – que ajudam a reduzir a produção de ácido pelo estômago, estimulam o movimento do esôfago (peristalse) e favorecem o esvaziamento gástrico. Uma pequena porcentagem dos casos de refluxo são encaminhadas para a cirurgia, geralmente quando os sintomas são persistentes, o paciente não tolera manter o tratamento clínico ou tem intolerância ou alergia às medicações ou quando a doença provocou uma esofagite grave ou suas complicações como hemorragias, estenoses ou transformação do revestimento interno do esôfago.

 

5. Existem hábitos de vida que ajudam a evitar o desenvolvimento do refluxo?
Não é possível prevenir causas estruturais do refluxo, como a hérnia de hiato ou o enfraquecimento da musculatura do esôfago e estômago, mas bons hábitos de vida ajudam a diminuir fatores de risco. São eles:

  • Controlar o peso. A obesidade tende a aumentar a frequência dos episódios de refluxo;
  • Evitar bebidas alcoólicas;
  • Não fumar;
  • Evitar refeições volumosas, gordurosas, períodos de jejum prolongado entre as refeições, preferir distribuir em pequenas porções ao longo do dia;
  • Mastigar bem e comer sem pressa;
  • Evitar se automedicar e sempre que tiver azia e queimação, procurar um médico para investigar a causa dos sintomas;
  • A endoscopia deve ser feita nos seguintes casos: se tiver sintomas persistentes ou sinais de complicações em qualquer idade; se tiver qualquer sintoma com 40 anos ou mais; após 50 anos, mesmo sem sintomas.

 

 

Testemunhos

Gostaríamos de agradecer ao Dr Pierry Louys Batista, em nome de todos os pediatras, toda equipe assistencial, de atendimento, segurança, higiene e do laboratório Delboni, pois percebemos que houve a verdadeira hospitalidade que todos falam, mas poucos exercem: a de fora dos livros.

Gustavo Ambrósio Tenório

Equipe de enfermagem muito bem preparada, atenta e disponível para qualquer chamado. Muito educada e cordial também, por exemplo, sempre ao entrar no quarto os enfermeiros avisavam meu pai que a luz seria acesa, não acendendo diretamente na “cara” da pessoa, que estava despreparada.

Antônio Rafael de Carvalho