A arritmia cardíaca é o nome dado a um conjunto de doenças que alteram o ritmo dos batimentos cardíacos. Elas podem ter diversas causas – desde congênitas até outras doenças cardíacas – e atingir pessoas de qualquer idade. Estima-se que 40 milhões de brasileiros tenham algum tipo de arritmia, que é responsável por mais de 320 mil mortes súbitas por ano. O Leforte conversou com a Dra. Ana Lúcia Queiroz Lambert, médica cardiologista, que tirou as principais dúvidas sobre o que são as arritmias e como podem ser tratadas.
O que é arritmia cardíaca e quais os tipos?
O coração possui células que têm a capacidade de gerar impulsos elétricos, que seguem caminhos dentro do coração, determinando um ritmo. A Dra. Ana Lúcia explica: “toda vez que existe alguma alteração nesse caminho que o impulso elétrico percorre chamamos de arritmia, que é um termo genérico para denominar um conjunto muito variado de doenças”.
A médica aponta que os principais tipos de arritmias se dividem de acordo com o ritmo cardíaco e cavidade do coração de origem:
Taquicardias – são as arritmias que aceleram o coração. Um exemplo é a fibrilação atrial, tipo mais incidente da doença, que costuma acometer principalmente os idosos.
Bradicardias – são arritmias que diminuem o ritmo cardíaco. Normalmente, o coração bate em um ritmo menor que 50 batimentos por minutos.
Arritmias atriais – tem origem no átrio.
Arritmias ventriculares – tem origem no ventrículo.
Quais as causas da arritmia cardíaca?
De acordo com a Dra. Ana Lúcia, as causas da arritmia são diversas. A doença pode ter origem genética ou ser decorrente de outros problemas de saúde e hábitos de vida.
Causas genéticas – “existem mutações genéticas que causam alterações em canais de sódio, potássio e cálcio, que favorecem o aparecimento de arritmias”, afirma a médica.
Alterações cardiológicas – “como após um infarto, por exemplo, ou em decorrência de doença estrutural do músculo cardíaco, como valvulopatias ou anomalias anatômicas de nascença”, exemplifica.
Demais doenças – algumas doenças não afetam a estrutura do músculo cardíaco, mas podem interferir no padrão dos batimentos do coração, causando arritmia. Alguns exemplos são hipertireoidismo e hipotireoidismo.
Fatores externos – “também existem arritmias que acontecem de forma secundária em decorrência a problemas externos, como intoxicação por álcool, abuso de algumas substâncias ilícitas e medicamentos, tabagismo e estresse”, explica.
A arritmia cardíaca pode causar a morte?
“A gravidade vai depender do tipo de arritmia e da pessoa que ela acomete”, afirma a Dra. Ana Lúcia. “Existem desde arritmias benignas até aquelas potencialmente fatais, que podem levar à morte súbita, inclusive”, complementa.
Qualquer pessoa pode ter arritmia, inclusive recém-nascidos e jovens considerados saudáveis, praticantes de esportes. No entanto, quem já possui outros problemas cardíacos – como infarto, insuficiência cardíaca, histórico de cirurgias prévias cardíacas – tem mais riscos de desenvolver episódios graves da doença.
A morte súbita é a morte inesperada e instantânea, causada pela perda da função de bombeamento do músculo cardíaco. A arritmia cardíaca é responsável por 80% a 90% dos casos de mortes súbitas causadas por ocorrências cardiovasculares. No entanto, ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, a situação é reversível em parte dos casos, principalmente se a pessoa for atendida rapidamente e tratada com um choque elétrico, aplicado no peito.
A arritmia cardíaca sempre causa sinais e sintomas?
Nem sempre as arritmias provocam sinais e sintomas, o que torna a doença potencialmente perigosa. Nos casos em que há alguma manifestação, a pessoa pode sentir:
- Palpitação;
- Desmaios (síncopes);
- Tontura;
- Falta de ar.
Como é feito o diagnóstico das arritmias cardíacas?
De acordo com a Dra. Ana Lúcia, o diagnóstico das arritmias é feito estritamente pelo exame de eletrocardiograma. “Não há como diagnosticar uma arritmia com exame físico ou qualquer outro exame que não seja a representação gráfica do impulso elétrico que acontece durante um ciclo cardíaco. Então, o eletrocardiograma é o exame de escolha para o diagnóstico da arritmia”, conclui.
No entanto, a cardiologista relata um problema diagnóstico comum em relação ao exame: “o eletrocardiograma é uma fotografia de um momento, de alguns segundos de monitorização. Se o paciente não tiver arritmia no momento do exame, o diagnóstico de uma arritmia que ocorreu anteriormente pode passar despercebido”.
Para aumentar a chances de confirmar uma possível arritmia, há outros exames que monitoram o ciclo cardíaco por mais tempo. São eles:
Holter – um aparelho externo é ligado ao tórax do paciente por fios para monitorar a atividade elétrica cardíaca de forma contínua, por 24 horas. “É uma forma de pegar uma arritmia que acontece de forma paroxística ou até para saber o quanto de arritmia o paciente está tendo”, explica a médica.
Looper – o exame funciona da mesma forma que o holter, mas a monitorização pode ser ampliada de sete até 14 dias.
Monitorização por dispositivos implantáveis – um dispositivo é implantado no subcutâneo do paciente para fazer uma monitorização mais prolongada. “É indicado para pacientes que possuem sintomas que indicam arritmia, mas nunca conseguiram registrá-la por meio dos outros exames”.
A Dra. Ana Lúcia acrescenta que, além desses exames, alguns pacientes precisam realizar um procedimento mais invasivo, chamado estudo eletrofisiológico. “O exame identifica como que está todo o funcionamento elétrico do sistema de condução cardíaco e, através desse mapeamento, é possível fazer o diagnóstico de algumas doenças que necessitam de tratamento. Também é possível queimar os focos elétricos errados, ou seja, “fios de eletricidade” que podem estar causando a arritmia”, explica.
Como a arritmia cardíaca é tratada?
O tratamento vai depender do tipo de arritmia e deve ser estabelecido de acordo com cada paciente. As abordagens mais comuns são:
Tratamento de arritmias bradicardias
A Dra. Ana Lúcia afirma que “o tratamento mais usado é o implante de um marcapasso definitivo. Esses dispositivos monitoram e estimulam o ritmo cardíaco, impedindo que os batimentos fiquem abaixo do normal”.
Tratamento de arritmias taquicardias
Medicamentos antiarrítmicos – podem ser administrados para aliviar os sintomas e só um médico deve prescrevê-los.
Ablação – o procedimento pode ser feito durante o estudo eletrofisiológico. Um cateter é inserido pelos vasos sanguíneos até o coração para “queimar” as vias elétricas anormais, que estão causando a arritmia.
Cardiodesfibrilador implantável – nos casos em que há muito risco de morte súbita, é possível fazer o implante de um aparelho semelhante a um marcapasso, capaz de identificar a arritmia. Caso ela evolua de forma que possa causar risco à pessoa, o dispositivo provoca um choque de desfibrilação.
É possível prevenir as arritmias cardíacas?
A cardiologista alerta: “como sabemos que as arritmias são mais comuns em pacientes que possuem doenças estruturais cardíacas, ou seja, doenças na bomba cardíaca, o cuidado geral com o coração também ajuda a prevenir as arritmias”. Ou seja, os mesmos cuidados de prevenção de doenças cardiovasculares valem para prevenir as arritmias secundárias. São eles:
- Controle da pressão arterial;
- Não fazer uso de substâncias ilícitas;
- Não consumir bebidas alcoólicas em excesso;
- Não usar medicamentos sem prescrição médica;
- Controlar o estresse;
- Evitar o sobrepeso e a obesidade;
- Praticar exercícios físicos;
- Não fumar.
A Dra. Ana Lúcia Queiroz Lambert é médica cardiologista. Possui título de Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e Título de Especialista em Terapia Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira.
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