Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio no mundo todos os anos, sendo que 79% dos casos acontecem em países de baixa e média renda. Uma das principais causas que levam uma pessoa a tirar a própria vida é a depressão, uma doença multifatorial, que envolve aspectos pessoais, sociais, econômicos e culturais, e atinge quase 12 milhões de brasileiros. Durante o mês de setembro, ocorre a campanha Setembro Amarelo, dedicada a informar a população sobre a prevenção do suicídio e às questões que envolvem o problema coletivo da depressão.
O Dr. Elton Rezende, psiquiatra do grupo de coluna e dor do Hospital Leforte Liberdade, explica como a depressão age e o que pode ser feito para ajudar familiares e amigos que enfrentam essa doença.
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO – Sabe-se que a depressão é a principal causa dos casos de suicídio. Quais os principais fatores genéticos, sociais e ambientais que motivam o desenvolvimento da doença?
DR. ELTON REZENDE – É importante enfatizar que o comportamento suicida é um fenômeno complexo, em que fatores ambientais interagem com múltiplos genes para determinar o que entendemos como suscetibilidade.
O modo que esses genes vão se manifestar depende de fatores externos, principalmente relacionados ao que a pessoa vive: ambiente caracterizado por situações de violência física e/ou emocional, privação de afeto dos pais e influência cultural onde o suicídio acaba de certa forma “tolerado”, como em algumas populações de origem oriental ou em situações de crise social e econômica.
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO – De acordo com pesquisa da Universidade de São Paulo, realizada em 2020, o Brasil lidera uma lista de 11 países com mais casos de depressão e ansiedade, quadro que se acentuou durante a pandemia do novo coronavírus. O que explica essa situação no contexto atual? Existe perspectiva para revertê-la a nível populacional?
DR. ELTON REZENDE – Situações de crise e de violência levam a pessoa a ter uma perspectiva negativa em relação ao futuro e, com isso, ao aumento do número de transtornos mentais e do risco de suicídio. Esta pandemia privou as pessoas do contato social e criou uma sensação de desesperança diante de inúmeras mortes de conhecidos e familiares, perda de emprego e dificuldades econômicas, entre outras situações adversas.
A melhora da assistência em relação à saúde mental, quebrando o estigma em relação ao tratamento com o psiquiatra e o psicólogo, além da sociedade, inclusive os próprios profissionais de saúde, de compreender que ansiedade e depressão não são sinais de “fraqueza” e sim condições médicas que devem ser tratadas de maneira adequada, podem ajudar a melhorar essa perspectiva. Com o maior número de pessoas vacinadas, também esperamos melhora no funcionamento social e econômico, que contribuem para percepção coletiva mais positiva de esperança.
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO – Quais comportamentos podem indicar que uma pessoa precisa de ajuda psicológica? A quais sinais considerados “silenciosos” é preciso estar atento?
DR. ELTON REZENDE – Alguns sinais de alerta em relação ao risco de suicídio, incluindo sinais “silenciosos”, são:
- Comportamento ansioso, agitado ou depressivo;
- Mudanças marcantes em hábitos ou na personalidade;
- Afastamento da família ou de amigos;
- Descuido com a aparência;
- Perda ou ganho inusitado de peso;
- Mudança no padrão habitual de sono;
- Abuso de álcool ou drogas;
- Perda de interesse em atividades das quais gostava;
- Piora no desempenho no trabalho, escola ou em outras atividades que costumava manter;
- Combinação de tristeza, irritabilidade e acessos de raiva;
- Comentários autodepreciativos persistentes;
- Comentários negativos em relação ao futuro e desesperança;
- Comentários sobre morte, sobre pessoas que faleceram ou interesse repentino sobre estes temas;
- Doação de objetos e outros pertences que valorizava;
- Expressão clara ou velada de querer morrer ou de colocar fim à própria vida.
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO – Muitas pessoas próximas a colegas e familiares com depressão, na tentativa de oferecer ajuda, acabam despertando gatilhos e piorando a situação. Quais medidas podem ser tomadas para ajudar alguém próximo em sofrimento psíquico?
DR. ELTON REZENDE – Usarei as orientações de um dos maiores pesquisadores sobre suicídio no Brasil – o professor Neury Botega, da Universidade Estadual de Campinas – o qual indico a todos que trabalham na área da saúde para conhecer e/ou ter como base para orientar familiares e amigos.
O que não deve ser feito nessas situações é cobrar a pessoa por melhoras, infantilizá-la, tratando-a como criança e desistir de ajudar. O que deve ser feito é oferecer compreensão e apoio. Por exemplo, o fato de ficar ao lado da pessoa, mesmo que seja em silêncio, já proporciona sensação de acolhimento. Incentivar a pessoa a fazer pequenas coisas, com delicadeza, sem exigências, respeitando sua necessidade de ficar mais quieto. Muitas vezes, o desânimo pode ser pior pela manhã e ela consegue fazer algumas atividades no período da tarde.
A depressão tira o colorido da vida, então é importante ouvir com atenção e respeito, ajudando a pessoa a ponderar e lembrando que os sentimentos e sensações estão sendo influenciados pela depressão. Procure diferenciar, com o devido cuidado, qualidades e realizações pessoais do passado com as ideias e os sentimentos negativos atuais. Mas lembre-se: isso não significa convencer por insistência ou por disputa racional.
Ao tentar remover as distorções provocadas pela depressão, faça observações com calma e concisão, procure mudar o olhar do negativismo e da desesperança. Monitore o tratamento, supervisionando o uso da medicação e, se possível, não deixe as medicações com o paciente. O medicamento antidepressivo demora um período para fazer efeito, portanto é importante acompanhar o paciente na psicoterapia, ajudá-lo nos cuidados pessoais e tirar dúvidas com o médico e o psicólogo.
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO – Ao presenciar uma situação em que alguém manifesta a intenção de tirar a própria vida, como proceder?
DR. ELTON REZENDE – Procurar ajuda o mais breve possível em local onde há atendimento de saúde mental, ou mesmo na unidade de pronto socorro, para ter uma intervenção de cuidado adequado ao paciente.
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO – Quais as abordagens de tratamento para a depressão? Ele deve ser contínuo, para a vida toda, ou é possível falarmos em alta?
DR. ELTON REZENDE – O tratamento para depressão deve ser individualizado, levando em conta os aspectos sociais, familiares e pessoais do paciente, inclusive se há comorbidades clínicas associadas, como a dor crônica. Portanto, o tempo de tratamento vai depender de cada paciente. Há pessoas que realizarão por um tempo determinado, outras, dependendo da gravidade, realizarão ao longo da vida – mas sempre pensando em manter uma boa qualidade de vida e prevenindo recaídas.
O Dr. Elton Rezende (CRM 106.196) é psiquiatra do grupo de coluna e dor do Hospital Leforte Liberdade. Possui graduação em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais, é especialista em psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria (RQE 21591), coordenador cientifico do comitê de hipermobilidade da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED). Atende às quintas-feiras, no período da manhã, no Hospital Leforte Liberdade.
Agende consulta com um psiquiatra
Conteúdos relacionados no site do Grupo Leforte
Setembro Amarelo: Suicídio pode ser prevenido. Saiba quando procurar ajuda
O que é depressão?
Saúde mental: comece o ano cuidando dela
Este conteúdo é meramente informativo e educativo, sendo destinado para o público em geral. Ele não substitui a consulta e o aconselhamento com o médico e não deve ser utilizado para autodiagnóstico ou automedicação. Se você tiver algum problema de saúde ou dúvidas a respeito, consulte um médico. Somente ele está habilitado fazer o diagnóstico, a prescrever o tratamento mais adequado para cada caso e acompanhar a evolução do quadro de saúde do paciente.