Qual a importância do tratamento precoce de AVC?

No Brasil, o AVC é a segunda maior causa de mortalidade, perdendo apenas para o infarto agudo do miocárdio (IAM), tendo 400 mil novos casos por ano segundo a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares. Para falar sobre o assunto, o Grupo Leforte convidou o Dr. Daniel Damiani, que é médico neurologista.

 

TRATAMENTO PRECOCE DE AVC – o que é acidente vascular cerebral, quais os tipos e as características de cada um e qual deles é mais frequente?

DR. DANIEL DAMIANI – quando observamos as apresentações clínicas dos AVCs, eles são subdivididos em dois grandes grupos:

  • Acidente vascular cerebral isquêmico – cujo mecanismo é a redução ou obstrução do fluxo sanguíneo que nutre as células nervosas por causa de um trombo (coágulo no sangue). Cerca de 80 a 85% dos AVCs apresentam-se na forma isquêmica.
  • Acidente vascular cerebral hemorrágico – onde observamos a ruptura de um vaso sanguíneo que nutre uma determinada região cerebral. Os AVCs hemorrágicos correspondem aos 15 a 20% dos casos. Frequentemente, encontramos como causa deles a hipertensão arterial sistêmica descontrolada.

A diferenciação clínica entre estas duas apresentações é extremamente complexa. Ou seja, ocorrerá apenas com a realização de neuroimagens. Tipicamente, uma tomografia de crânio sem contraste.

 

TRATAMENTO PRECOCE DE AVC – quais são os sinais e sintomas que podem indicar um acidente vascular cerebral?

DR. DANIEL DAMIANI – os sintomas iniciais são diversos, correlacionando-se diretamente com a região funcional acometida no sistema nervoso central. Alguns exemplos de sinais e sintomas de AVC podem ser:

  • Cefaleia;
  • Diminuição de força dos membros superiores e inferiores;
  • Desvio da rima labial (boca torta);
  • Vertigens;
  • Desequilíbrio com instabilidade postural;
  • Vômitos;
  • Alterações de sensibilidade (reconhecida pelos pacientes como dormências);
  • Dificuldade em pronunciar palavras;
  • Alterações visuais;
  • Dificuldade de deglutição.

Mas, em relação à apresentação clínica, conforme mencionado anteriormente, não há como diferenciar os dois grandes grupos de AVCs apenas pelos sintomas neurológicos. As neuroimagens são uma ferramenta indispensável para o correto diagnóstico.

 

TRATAMENTO PRECOCE DE AVC – se uma pessoa apresentar um ou mais desses sinais e sintomas, o que ela ou alguém próximo deve fazer?

DR. DANIEL DAMIANI – é fortemente recomendado que, na suspeita de um AVC, o paciente ou alguém próximo ligue para o serviço móvel de emergências (SAMU ou RESGATE) para que haja o correto encaminhamento para um serviço médico com complexidade suficiente para manejar esta doença.

Algumas situações clínicas podem ser parecidas com um AVC. Estudos recentes mostram que as hipoglicemias, sepse, síncope, convulsões e quadros funcionais são as situações mais confundidas com os AVCs nas salas de emergências.

 

TRATAMENTO PRECOCE DE AVC – qual a importância de buscar atendimento médico rapidamente no caso de suspeita de acidente vascular cerebral?

DR. DANIEL DAMIANI – em neurologia, há um dogma: “tempo é cérebro”! No tratamento do AVC, nunca esse dogma foi tão verdadeiro. Pois, sabemos que as células nervosas são extremamente sensíveis à falta de fluxo sanguíneo, sobrevivendo por um tempo muito curto. Ou seja, quanto antes reestabelecermos a circulação cerebral, melhor será o desfecho clínico dos pacientes.

 

TRATAMENTO PRECOCE DE AVC – o que é tratamento precoce?

DR. DANIEL DAMIANI – atualmente, dispomos de grandes possibilidades terapêuticas. Estamos vivendo uma nova era nas doenças cerebrovasculares com fármacos e dispositivos mecânicos capazes de reestabelecer a circulação cerebral com remoção do trombo que a obstruía. No entanto, lembrando do dogma “tempo é cérebro”, por mais que estes novos tratamentos estejam disponíveis, há uma janela de oportunidade para cada um deles – um tempo determinado para que o benefício se sobreponha aos riscos de utilizá-los.

Hoje em dia, dispomos de uma medicação, denominada trombolítico, cujo mecanismo de ação é a fibrinólise, ou seja, a capacidade de degradar o trombo de fibrina (proteína fibrosa envolvida na coagulação do sangue). No entanto, a janela de segurança considerada atualmente é de até 4,5 horas após o início dos sintomas. Depois deste período, perderemos a oportunidade de utilizar o trombolítico.

Porém, nos últimos anos, os estudos validaram a possibilidade de intervenção mecânica com dispositivos endovasculares capazes de desobstruir o vaso ocluído numa janela de tempo de até 24 h após o início dos sintomas. Vale destacar que algumas variantes devem ser consideradas em cada caso, tais como:

  • Análise do status funcional prévio do paciente com a escala de Rankin modificada, que é usada para avaliar o grau de incapacidade ou dependência nas atividades quotidianas de pessoas que sofreram um acidente vascular cerebral;
  • Aspecto tomográfico avaliado por escala radiográfica ASPECTS, que analisa a extensão do comprometimento da artéria cerebral média e o risco de sangramento com o tratamento trombolítico;
  • Grau de comprometimento funcional, com aplicação da escala NIHSS, que é um instrumento de avaliação dos déficits neurológicos relacionados ao acidente vascular cerebral agudo por meio da escala preconizada pelo NIH (National Intitutes of Health, que é o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA). A escala avalia 11 itens, como nível de consciência e sensibilidade.

Atualmente, há uma tendência em considerarmos caso a caso a rede colateral de vasos sanguíneos em cada paciente. O que nos parece lógico já que, se houver uma rede de vasos colaterais eficaz, a janela de reperfusão (tempo em que o reestabelecimento do fluxo sanguíneo deve ser feito) poderá ser estendida, representando uma maior capacidade de sobrevivência das células neuronais.

 

TRATAMENTO PRECOCE DE AVC – quais são as principais diretrizes dele e o impacto delas na recuperação do paciente?

DR. DANIEL DAMIANI – podemos dividir o manejo do AVC isquêmico, de representa de 80 a 85%, em quatro grandes atos:

  1. Admissão do paciente, coleta de exames laboratoriais, colocação de dois acessos venosos, monitorização em sala de emergência e aplicação da escala NIHSS;
  2. Realização de neuroimagem, tipicamente tomografia computadorizada (TC) de crânio sem contraste complementada com angio TC de crânio e cervical;
  3. Checagem de indicações e contraindicações da trombólise química;
  4. Cuidados pós-trombólise, com controle de pressão arterial, normoglicemia (variação normal da glicemia) e repetição da checagem com a escala NIHSS.

A trombectomia mecânica (introdução de um cateter até o ponto de oclusão responsável pelo AVC) pode ser considerada quando diagnosticamos uma obstrução proximal da artéria cerebral média (M1) ou artéria carótida interna.

 

TRATAMENTO PRECOCE DE AVC – o índice de óbitos por acidente vascular cerebral no Brasil e no exterior é muito alto?

DR. DANIEL DAMIANI – os AVCs possuem imenso impacto na saúde da população mundial. A cada seis segundos uma pessoa é vítima de AVC no mundo, sendo que uma em cada quatro pessoas sofrerão um AVC em algum momento da vida. No Brasil, o AVC é a segunda maior causa de mortalidade, perdendo apenas para o infarto agudo do miocárdio (IAM), constituindo-se em 400 mil novos casos por ano segundo a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares.

 

TRATAMENTO PRECOCE DE AVC – quais são os fatores de risco para AVC?

DR. DANIEL DAMIANI – alguns fatores de risco são bem identificados, incluindo:

  • Hipertensão arterial sistêmica;
  • Diabetes mellitus;
  • Dislipidemia;
  • Obesidade;
  • Sedentarismo;
  • Tabagismo;
  • Algumas doenças sistêmicas, como distúrbios da tireóide;
  • Doenças estruturais cardíacas incluindo a presença de fibrilação atrial;
  • Algumas doenças que envolvem o sistema de coagulação;
  • Doenças reumatológicas.
Dr Daniel Damiani

O Dr. Daniel Damiani é médico neurologista pelo Hospital do Servidor Público do Estado (IAMSPE), Fellowship em Transtornos do Movimento pelo Hospital do Servidor Público do Estado e pós-graduado em Medicina de Urgências e Emergências pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). O especialista atende pacientes na Clínica e Diagnósticos Leforte Morumbi nas segundas-feiras, na parte da tarde.

Este conteúdo é meramente informativo e educativo, sendo destinado para o público em geral. Ele não substitui a consulta e o aconselhamento com o médico e não deve ser utilizado para autodiagnóstico ou automedicação. Se você tiver algum problema de saúde ou dúvidas a respeito, consulte um médico. Somente ele está habilitado fazer o diagnóstico, a prescrever o tratamento mais adequado para cada caso e acompanhar a evolução do quadro de saúde do paciente.
Testemunhos

Gostaríamos de agradecer ao Dr Pierry Louys Batista, em nome de todos os pediatras, toda equipe assistencial, de atendimento, segurança, higiene e do laboratório Delboni, pois percebemos que houve a verdadeira hospitalidade que todos falam, mas poucos exercem: a de fora dos livros.

Gustavo Ambrósio Tenório

Equipe de enfermagem muito bem preparada, atenta e disponível para qualquer chamado. Muito educada e cordial também, por exemplo, sempre ao entrar no quarto os enfermeiros avisavam meu pai que a luz seria acesa, não acendendo diretamente na “cara” da pessoa, que estava despreparada.

Antônio Rafael de Carvalho