Principalmente na primeira fase da vida, as crianças estão mais suscetíveis a doenças, principalmente as infecciosas, pois ainda não estão com o sistema imune desenvolvido o suficiente. No entanto, cada problema de saúde tem as próprias características de manifestação, sinais e sintomas e formas de prevenção, como a vacinação, por exemplo. O Grupo Leforte conversou com a Dra. Talita Rizzini, coordenadora da Unidade de Internação de Pediatria e Pronto Socorro Infantil do Hospital Leforte Liberdade, sobre as doenças mais comuns em crianças e as principais dúvidas sobre o tema.
DOENÇAS MAIS COMUNS EM CRIANÇAS – Quais as doenças mais incidentes em cada faixa etária?
DRA. TALITA RIZZINI – Em todas as faixas etárias, as infecções de vias aéreas – como gripe, faringite, laringite, amigdalite – e do trato gastrointestinal, como diarreia e vômitos de causa viral, são as mais comuns. Até mesmo nos adultos são doenças muito incidentes.
Infecções bacterianas são menos prevalentes que as virais, mas podem ser mais graves, principalmente em crianças não vacinadas. São exemplos: otite média aguda, amigdalite e sinusite bacteriana, pneumonia e infecções urinárias.
DOENÇAS MAIS COMUNS EM CRIANÇAS – Elas tendem a desenvolver doenças mais facilmente que adultos? Por que?
DRA. TALITA RIZZINI – Sim. O sistema imunológico – que defende o corpo contra invasões de agentes infecciosos – está em desenvolvimento na criança, tornando-as mais suscetíveis a infecções de uma maneira geral. É um processo que se inicia ainda dentro do útero e nunca tem fim, porque continuamos expostos a seres patogênicos ao longo de nossas vidas. No entanto, a maturidade imunológica é alcançada no início da adolescência.
Quanto às doenças não infecciosas, há doenças que são mais prevalentes na faixa etária pediátrica como a asma, por exemplo, mas o contrário também é verdadeiro: existem muitas doenças mais prevalentes no adulto que são raras na infância.
DOENÇAS MAIS COMUNS EM CRIANÇAS – Quais crianças estão mais suscetíveis a ficar doentes e quais tipos de enfermidades devem deixar os responsáveis alertas?
DRA. TALITA RIZZINI – Dentre as saudáveis, as menores – recém-nascidos e lactentes jovens (até os quatro ou cinco meses), as que não foram amamentadas ao seio materno e crianças em situação de vulnerabilidade social, com condições precárias de saneamento básico, são as mais suscetíveis.
A partir do momento em que uma doença crônica é diagnosticada, a suscetibilidade a outros problemas de saúde também pode aumentar. Alguns exemplos são: crianças com deficiências no sistema imune, em tratamento de câncer ou com doenças autoimunes.
No entanto, crianças ditas saudáveis, mas com hábitos ruins de sono, alimentação pobre em nutrientes, passando por situações de estresse ou em ambiente familiar estressor, também podem ter o sistema imune funcionando com menor qualidade.
DOENÇAS MAIS COMUNS EM CRIANÇAS – Algumas dessas doenças mais incidentes em crianças oferecem risco à vida? Quais as possíveis complicações?
DRA. TALITA RIZZINI – Na maioria das vezes, as infecções virais têm curso benigno e autolimitado, com cura sem sequelas em até 14 dias, mas é importante a avaliação individual e atenta para os sinais de atenção e para o aparecimento de complicações. Por exemplo, uma infecção de vias aéreas – um resfriado comum – pode evoluir com acúmulo de secreção na orelha média (ouvido) e essa secreção servir de cultura para bactérias que causam otite, levando a uma infecção bacteriana.
A generalização é um tanto complicada, porque são inúmeros os agentes infecciosos e também os fatores que podem levar a uma maior tendência de complicação. Por exemplo, uma infecção por Vírus Sincicial Respiratório (VSR) – o vírus da bronquiolite – pode ser grave em um recém-nascido e não causar mais que um resfriado em crianças maiores.
DOENÇAS MAIS COMUNS EM CRIANÇAS – Quais os sinais e sintomas mais comuns que podem indicar que há algo de errado com a criança, principalmente naquelas que ainda não se comunicam?
DRA. TALITA RIZZINI – Os sinais de alerta, que indicam a necessidade de atendimento médico, são:
- Febre prolongada – por mais de 72 horas;
- Prostração;
- Dificuldade para respirar;
- Episódios repetidos de vômitos e/ou diarreia;
- Desidratação com diminuição da urina;
- Olhos encovados e mucosas secas;
- Manchas no corpo;
- Irritabilidade intensa;
- Convulsões ou desmaios.
DOENÇAS MAIS COMUNS EM CRIANÇAS – Quais os cuidados que responsáveis devem ter e são essenciais para prevenir doenças, de modo geral, em crianças?
DRA. TALITA RIZZINI – De modo geral, a prevenção de doenças se dá por meio da promoção de saúde aliada à vacinação. Para promover saúde, devemos estabelecer bons hábitos de higiene, alimentação, sono e atividade física, como brincadeiras ao ar livre com maior contato com a natureza. Além disso, manter o calendário vacinal atualizado é de fundamental importância e responsabilidade dos pais.
Estudo recente publicado no The Lancet, uma revista científica médica, estima que as vacinas foram capazes de evitar 37 milhões de mortes nos primeiros 20 anos deste milênio nos países de baixa e média renda, como é o caso do Brasil. A incidência de doenças graves e potencialmente fatais, como a meningite bacteriana, diminuiu drasticamente após a implementação da vacinação oferecida em âmbito nacional. Esse é só um exemplo de como as vacinas revolucionaram a história natural das doenças e a história da humanidade.
DOENÇAS MAIS COMUNS EM CRIANÇAS – No caso de a criança contrair uma doença infecciosa, quais cuidados devem ser tomados em relação à rotina escolar e de outras atividades? E em casa, com os pais e demais familiares?
DRA. TALITA RIZZINI – A partir dos primeiros sintomas, a escola deve ser avisada e a criança afastada das atividades para evitar o contágio de outras crianças até que se estabeleça um diagnóstico. Com a melhora do quadro, o retorno deve ser programado juntamente com o pediatra, já que há diferentes agentes infecciosos e cada um possui o próprio tempo de transmissibilidade.
Em casa, os cuidados com higiene devem ser redobrados a fim de evitar o contato direto com secreções potencialmente contaminadas:
- Ensinar a cobrir a boca ao tossir e espirrar;
- Evitar compartilhamento de talheres e toalhas;
- Lavar as mãos com frequência, principalmente após a realização de cuidados como lavagem nasal, nos casos de infecções de vias aéreas, ou troca de fraldas, nos casos de diarreia, por exemplo.
Na prática, é bem difícil isolar a criança de outros membros da família, mas com esses cuidados, a chance de transmissão diminui. Casos específicos devem ser avaliados e orientados pelo pediatra.
A Dra. Talita Rizzini é médica formada pela Faculdade de Medicina de Catanduva. Realizou residência médica em pediatria e hebiatria, pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Atualmente é coordenadora da Unidade de Internação de Pediatria e Pronto Socorro Infantil do Hospital Leforte Liberdade e coordenadora médica do Pronto Socorro da Pediatria do Hospital Sepaco. Também atua como como médica plantonista do Pronto Socorro e Observação Infantil da Prefeitura de Guarulhos, no Hospital Bonsucesso e como médica diarista da Unidade de Internação de Pediatria do Hospital Alvorada de Moema.
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