Anualmente, diversas instituições se juntam à campanha Novembro Azul desenvolvendo ações para conscientizar e mostrar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce de doenças que atingem os homens – como o câncer de próstata, que é o mais frequente entre os homens brasileiros depois do câncer de pele. Então, para falar sobre saúde masculina, o Grupo Leforte convidou o Dr. Renato Meirelles Mariano da Costa Jr., que é médico urologista.
SAÚDE MASCULINA – é verdade que os homens são mais relutantes em procurar ajuda médica do que as mulheres?
DR. RENATO MEIRELLES MARIANO DA COSTA JR. – de fato, culturalmente os homens não têm o hábito de passar em médico anualmente assim como fazem as mulheres. Elas, desde a adolescência, já criam esse hábito ao visitarem o ginecologista todo ano para fazer check-up, continuando posteriormente com clínicos, dermatologistas etc., mostrando um cuidado muito maior com a saúde. Alguns estudos mostram que, para cada sete ou oito mulheres que vão regularmente ao ginecologista, somente um homem vai ao urologista de maneira regular e preventiva.
SAÚDE MASCULINA – quando os homens procuram um médico, de forma geral, os problemas de saúde já estão mais adiantados?
DR. RENATO MEIRELLES MARIANO DA COSTA JR. – sim. Por não terem o hábito de ir ao médico de maneira preventiva, os homens acabam perdendo a chance de receber o diagnóstico de uma eventual doença em seu estágio inicial. Geralmente, eles procuram ajuda médica quando já têm sintomas decorrentes daquela doença – ou seja, quando ela já está em uma fase mais avançada. Com isso, perdemos tempo em que poderíamos já ter combatido e minimizado as consequências daquela condição de saúde.
SAÚDE MASCULINA – os homens adoecem e morrem mais do que as mulheres?
DR. RENATO MEIRELLES MARIANO DA COSTA JR. – existem dados relevantes e atuais que mostram que os homens, realmente, adoecem e morrem mais precocemente do que as mulheres. O último levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), publicado em 2019, aponta que a expectativa de vida média da população feminina é de 80 anos, enquanto o da população masculina fica ao redor de 73 anos. Esses dados demonstram de maneira objetiva que há um descaso, uma menor preocupação com a saúde por parte do homem em comparação com as mulheres.
SAÚDE MASCULINA – quais são as doenças mais frequentes nos homens?
DR. RENATO MEIRELLES MARIANO DA COSTA JR. – as doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e AVC (conhecido popularmente como derrame), são as doenças de maior incidência no homem. Também não podemos esquecer do câncer de pulmão, que é duas vezes mais comum na população masculina em relação à população feminina, e do câncer de próstata, que detalharemos mais à frente.
Além disso, quando falamos de pacientes mais jovens, entre 20 e 40 anos de idade, temos que lembrar ainda do câncer de testículo, que é mais comum nessa faixa etária e que não é tão elucidado à população. Os sinais de alerta incluem nódulos palpáveis e áreas endurecidas nos testículos. É preciso disseminar informações sobre essa patologia, principalmente para essa faixa etária que está mais vulnerável a ela, para que haja um diagnóstico mais precoce e melhores resultados pra esses pacientes.
SAÚDE MASCULINA – qual a consequência de ser diagnosticado e começar o tratamento de alguma doença em estágio mais adiantado? Especialmente em relação àquelas que o senhor citou que são mais frequentes?
DR. RENATO MEIRELLES MARIANO DA COSTA JR. – como já dito, as doenças cardiovasculares são um grande problema para a população masculina. E não podemos esquecer das doenças que estão indiretamente correlacionadas a elas, como diabetes, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia (níveis elevados de gorduras no sangue). Em muitos casos, elas se apresentam, inicialmente, como doenças pouco sintomáticas ou silenciosas, fazendo com que o paciente retarde o diagnóstico e o tratamento. Isso aumenta as chances de sequelas futuras que poderiam ter sido minimizadas com o diagnóstico e o tratamento precoces a partir de visitas rotineiras ao médico.
A mesma regra se aplica a todos os tipos de câncer, que devem ser rastreados e detectados o mais cedo possível. O diagnóstico em fases iniciais possibilita aumentar as chances de cura e minimizar os problemas relacionados à própria doença ou ao tratamento. Pois, em muitos casos, será possível realizar cirurgias mais simples, tratamentos sistêmicos com quimioterapias mais leves ou em menor quantidade.
SAÚDE MASCULINA – sobre o câncer de próstata, ele costuma ser mais frequente em homens de que faixa etária?
DR. RENATO MEIRELLES MARIANO DA COSTA JR. – de maneira genérica, homens a partir dos 50 anos de idade são os que têm mais chance de evoluir com o câncer de próstata. Mas quem possui certos fatores de risco deve começar a fazer o rastreio da doença mais precocemente, a partir dos 45 anos. É o caso de pacientes que apresentam história familiar de tumor de próstata (principalmente parentes de primeiro grau, como pai e irmãos) e pacientes que são afrodescendentes.
SAÚDE MASCULINA – há algum sinal ou sintoma quando ele está em fase inicial ou eles só começam quando a doença já está mais avançada e quais são?
DR. RENATO MEIRELLES MARIANO DA COSTA JR. – na maioria das vezes, não há sinais e sintomas específicos relacionados ao câncer de próstata em fase inicial. Por esse motivo, é muito importante que o homem comece a fazer, ao redor dos 45 ou 50 anos, de acordo com a presença ou não de fatores de risco, a visita anual ao seu médico urologista para que possam ser feitas avaliações preventivas.
Em alguns casos, o paciente pode apresentar alterações do padrão urinário, mas esses sintomas se confundem com a hiperplasia prostática benigna, que é o aumento benigno da próstata, muito frequente nos homens.
Além disso, quando diagnosticamos pacientes por seus sinais e sintomas, provavelmente são casos em que já perdemos a oportunidade de fazer o diagnóstico em fases mais iniciais. Porque, geralmente, esses sintomas ocorrem em estágios mais avançados do câncer de próstata. Como, por exemplo a ocorrência de metástases para os ossos, que irá gerar dor óssea, ou nos casos em que a doença já cresceu localmente, e eventualmente avançou para a bexiga ou até para os ureteres, podendo ocasionar a má drenagem da urina do rim, com consequências bastante severas.
SAÚDE MASCULINA – como é feito o diagnóstico do câncer de próstata, existem exames periódicos que ajudem a detectar a doença de forma precoce?
DR. RENATO MEIRELLES MARIANO DA COSTA JR. – quando falamos de rastreio do câncer de próstata, devemos sempre ter em mente dois exames:
Exame físico – deve ser feito juntamente com o exame de toque retal, em que o médico avalia a consistência da próstata e a presença de nódulos palpáveis.
Antígeno prostático específico (PSA) – feito a partir da coleta sanguínea, o exame mede os níveis de PSA, uma proteína que a próstata naturalmente produz. Uma taxa acima do normal sugere – mas não confirma – a presença de câncer de próstata. Nesse caso, o médico urologista vai realizar uma investigação mais detalhada por meio de outros exames.
Todos os homens devem fazer os dois exames anualmente a partir dos 50 anos ou, caso apresentem qualquer um dos fatores de risco já citados, a partir dos 45 anos.
SAÚDE MASCULINA – como o câncer de próstata pode ser tratado de acordo com os diferentes estágios dele?
DR. RENATO MEIRELLES MARIANO DA COSTA JR. – há um rico arsenal para o tratamento do câncer de próstata. Em doenças indolentes, ou seja, pouco agressivas, que apresentam pequenas extensões na próstata, pode não ser necessário um tratamento ativo em um primeiro momento. Nesse caso, pode ser possível utilizar a chamada vigilância ativa: o paciente é acompanhado de perto, através de exame físico, exame PSA, exames de imagem e biópsias seriadas, a fim de monitorar se a doença progride ou não.
Já para pacientes que apresentam tumores de próstata não tão indolentes, com alguma característica de agressividade maior, existem algumas modalidades de tratamento. Para a doença localmente restrita, é possível realizar o tratamento cirúrgico, seja pela cirurgia convencional aberta ou pela cirurgia laparoscópica ou robótica, em que podemos oferecer para o paciente uma recuperação mais rápida e até, em alguns casos, minimizar alguns efeitos relacionados ao tratamento. Outra opção de tratamento para a doença localizada é a radioterapia.
Para pacientes que apresentam doenças mais avançadas, podemos discutir ainda o benefício do tratamento da radioterapia ou da cirurgia para controle local da doença, e associar alguns tratamentos sistêmicos, como o bloqueio hormonal, quando, através de medicamentos, bloqueamos a produção de testosterona pelos testículos e, algumas vezes, também pelas glândulas adrenais. Em casos mais avançados podemos ainda usar mão de quimioterapia e alguns outros medicamentos mais modernos que vêm chegando ao mercado, como inibidores de PARP, imunoterapia e radioisótopos.
SAÚDE MASCULINA – existem medidas que ajudem a prevenir o câncer de próstata?
DR. RENATO MEIRELLES MARIANO DA COSTA JR. – não existem medidas específicas para a prevenção do câncer de próstata, mas ter um estilo de vida saudável ajuda na prevenção de todos os tipos de câncer. Isso inclui a prática de atividade física, evitar o excesso de peso e ter uma alimentação saudável com pouca gordura.
Mais importante do que a prevenção, a principal ferramenta para combater o câncer de próstata é o rastreio precoce. Reforço que o diagnóstico da doença em fases iniciais possibilita alta chance de cura e minimiza sequelas relacionadas ao tratamento.
O Dr. Renato Meirelles Mariano da Costa Jr. é médico urologista. Formou-se em medicina, cirurgia geral e urologia pela Faculdade de Medicina do ABC e, atualmente, está fazendo doutorado em urologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). É Fellowship em urologia oncológica e cirurgia minimamente invasiva e assistente dos grupos de oncologia urológica da UNIFESP e do hospital do servidor público estadual (IAMSPE). O Dr. Renato atende pacientes na Clínica e Diagnósticos Leforte Morumbi toda quarta-feira, no período da tarde.
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Este conteúdo é meramente informativo e educativo, sendo destinado para o público em geral. Ele não substitui a consulta e o aconselhamento com o médico e não deve ser utilizado para autodiagnóstico ou automedicação. Se você tiver algum problema de saúde ou dúvidas a respeito, consulte um médico. Somente ele está habilitado fazer o diagnóstico, a prescrever o tratamento mais adequado para cada caso e acompanhar a evolução do quadro de saúde do paciente.