A cirrose é uma doença crônica, que faz com que o fígado perca progressivamente a função. Por muitas vezes não manifestar sinais e sintomas, o paciente não toma conhecimento da doença e continua com hábitos que podem ser as principais causas para a cirrose, como o abuso de álcool, drogas ilícitas e produtos que podem até ter origem natural, por exemplo, chás e ervas.
O Grupo Leforte conversou com o Dr. Tércio Genzini, coordenador do Núcleo de Fígado do Centro de Transplantes, que explica sobre as principais causas da cirrose, como é feito o diagnóstico, controle e tratamento da doença.
CIRROSE – Uma das causas mais comuns da cirrose é o alcoolismo crônico. Mas, além desta, quais as outras possíveis causas da doença?
DR. TÉRCIO GENZINI – Apesar do alcoolismo ser uma causa importante de doenças hepáticas, incluindo cirrose, existem várias outras situações que podem levar a doenças agudas ou crônicas de fígado, entre elas:
- Gordura no fígado;
- Hepatites virais;
- Hepatites medicamentosas;
- Hepatites tóxico-metabólicas produzidas por produtos químicos, incluindo plantas e chás naturais;
- Hepatites autoimunes;
- Doenças metabólicas por deficiências de enzimas;
- Doenças de depósitos – como, por exemplo, o ferro na hemocromatose.
CIRROSE – Como é o desenvolvimento da doença? É possível detectá-la precocemente e impedir o agravamento ou se trata de uma doença progressiva?
DR. TÉRCIO GENZINI – As doenças hepáticas se dividem em agudas e crônicas. As doenças agudas geralmente apresentam sintomas e tem curta duração, com exceção dos casos mais graves, que podem evoluir com um quadro fulminante e necessitar transplante de urgência.
As doenças crônicas, como é o caso da cirrose e do câncer de fígado, possuem mais de seis meses de duração e geralmente são silenciosas até que o comprometimento do fígado alcance cerca de 70% da função do órgão. A única forma de diagnóstico desse tipo de doença são exames de sangue e ou imagem, que são realizados após a detecção de situações de risco, como o uso de drogas ilícitas, por exemplo, ou em exames de rotina.
CIRROSE – A cirrose provoca sinais e sintomas logo de início? Se sim, quais são?
DR. TÉRCIO GENZINI – A cirrose não provoca sintomas na fase inicial e existem muitos pacientes assintomáticos com a doença. Em caso de evolução da cirrose, geralmente, os sintomas iniciais são:
- Cansaço;
- Fadiga;
- Indisposição;
- Retenção de líquidos;
- Inchaço das pernas;
- Acúmulo de líquido no abdômen (ascite);
- Olhos amarelos (icterícia);
- Lentidão de raciocínio;
- Sonolência;
- Confusão mental;
- Aparecimento de manchas na pele, como se fossem sangramentos;
- Hemorragias graves do esôfago, do estômago ou dos intestinos.
CIRROSE – Quais os tratamentos para a cirrose de acordo com cada tipo de caso?
DR. TÉRCIO GENZINI – A cirrose, uma vez estabelecida, é irreversível. O tratamento da pessoa com a doença consiste em medidas para a preservação das funções do fígado e na prevenção de complicações. Isso é feito por meio de exames periódicos que mostram os riscos que o paciente está sujeito. Entre as medidas de proteção, estabilização ou melhora das funções do fígado estão o tratamento e eliminação das causas que levaram à cirrose.
CIRROSE – Uma vez com cirrose, é possível reverter os danos causados ao fígado sem a necessidade do transplante?
DR. TÉRCIO GENZINI – Não, infelizmente, a única forma de reverter a cirrose é por meio do transplante de fígado.
CIRROSE – Quando o transplante de fígado é uma indicação para o tratamento da cirrose?
DR. TÉRCIO GENZINI – O transplante de fígado deve ser indicado quando há alterações graves dos exames ou sintomas de descompensação. Algumas formas de avaliação das funções do fígado são classificações medidas com exames de sangue:
MELD – Model for End-stage Liver Disease, em inglês, é uma escala que varia de seis a 40, de menor a maior gravidade. É usada para quantificar a urgência do transplante de fígado.
Child-Pugh – A escala combina cinco fatores para determinar a gravidade e a descompensação da cirrose, também usada como critério para transplante hepático.
Existem ainda situações que podem não alterar os exames de sangue mas indicam o transplante, como o câncer de fígado, por exemplo.
CIRROSE – Sobre os transplantes de fígado realizados pelo Grupo Leforte, quais as principais causas que levam os pacientes a necessitar este tratamento?
DR. TÉRCIO GENZINI – No Hospital Leforte temos atendido pacientes vindos de várias partes do Brasil, além daqueles que moram em São Paulo. As causas mais comuns de cirrose que temos realizado transplantes são as hepatites virais e consequências da esteatohepatite, que é a gordura no fígado. Entretanto, todas as outras causas também estão presentes, apesar de em frequências menores.
CIRROSE – Como é a recuperação do paciente após passar por um transplante de fígado para o tratamento da cirrose? Quais devem ser os cuidados para o resto da vida?
DR. TÉRCIO GENZINI – O transplante oferece os sentimentos e a qualidade de vida da cura, mas trata-se de um tratamento perene, que deve ser mantido durante toda a vida do transplantado.
O paciente transplantado deve ter uma vida saudável e não se expor a situações de risco para contrair infecções, como comer alimentos contaminados ou ficar próximo a pessoas com doenças transmissíveis pelas vias aéreas, por exemplo. É importante ainda tomar todas as vacinas indicadas, conforme a faixa etária do paciente, munidade prévia e àquelas indicadas em situações de epidemias ou pandemias.
Dr. Tércio Genzini é coordenador do Núcleo de Fígado do Centro de Transplantes do Grupo Leforte. Atende no Hospital Leforte Liberdade.
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