A esteatose hepática, também chamada de gordura no fígado, atinge cerca de 30% dos brasileiros e está associada ao aumento do risco de doenças crônicas graves, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, câncer de fígado, entre outras. Apesar da gravidade do problema, é possível reverter a gordura no fígado com mudança de hábitos. O Leforte conversou com o Dr. Jefferson Claudio Murad, médico cirurgião do aparelho digestivo, sobre as diversas causas, tratamento e prevenção da esteatose hepática.
O que é a gordura no fígado e como ela se desenvolve?
O Dr. Jefferson explica que a taxa de gordura normal de um fígado é menor que 6%. A esteatose hepática é denominada quando essa taxa de gordura é maior e pode ser classificada em leve, moderada ou grave. Se a gordura no fígado permanece por muito tempo, ela pode provocar uma inflamação capaz de evoluir para um tipo grave de hepatite, além de cirrose, falência hepática e câncer de fígado.
“O fígado é o processador de energia celular de nosso corpo a partir dos nutrientes de alimentos ou de substâncias ingeridas. A gordura no fígado se desenvolve por ingestão aumentada de alimentos gordurosos ou por metabolismo anormal da gordura, que pode acontecer devida a erros inatos do metabolismo, alcoolismo, hepatites virais, entre outros”, afirma o médico.
Quais as causas da gordura no fígado?
O Dr. Jefferson conta que as causas da gordura do fígado se dividem em alcoólicas e não alcoólicas. Além do consumo excessivo de álcool, as causas da esteatose hepática podem ser:
- Obesidade e sobrepeso –
- Perda brusca de peso;
- Gravidez;
- Sedentarismo;
- Erros de metabolismo – como dislipidemia (colesterol alto) familiar ou genética;
- Diabetes tipo 2;
- Má nutrição – como ingestão calórica excessiva ou alto consumo de alimentos gordurosos;
- Hepatites virais;
- Hepatite induzida por medicamentos e substâncias – tais como corticosteroides, estrógenos sintéticos, aspirinas, bloqueadores de canais de cálcio, amiodarona, tamoxifeno, tetraciclina, metotrexato, ácido valproico, cocaína, fósforo, tetracloreto de carbono e tricloroetileno;
- Cirurgias que usem a técnica jejuno-ileal e, portanto, afetem a absorção de nutrientes, como a algumas bariátricas.
A gordura no fígado pode causar sinais e sintomas?
“Como o fígado é o processador de energia do corpo humano a partir dos nutrientes recebidos, um sintoma muito comum é o excesso de cansaço ou exaustão precoce ao fazer algum tipo de exercício físico”, afirma o médico. No entanto, é importante ressaltar que nem todas as pessoas com gordura no fígado manifestam sinais e sintomas.
O que a gordura no fígado pode causar em médio e longo prazo?
Segundo o Dr. Jefferson, a esteatose hepática está associada a algumas principais doenças crônicas importantes: diabetes tipo 2, hipertensão arterial e obesidade. Além disso, a médio e longo prazo a gordura no fígado pode causar:
- Aumento do risco de doenças cardíacas, como isquemia miocárdica e infarto, devido ao acúmulo de gorduras nas artérias (aterosclerose);
- Aumento do risco de acidente vascular cerebral isquêmico devido a obstruções das artérias carótidas;
- Aumento do risco de câncer do intestino e do próprio fígado;
“Em casos mais avançados, a doença pode evoluir para a esteatohepatite grave, que é a falência do funcionamento do fígado”, alerta o médico.
Como a gordura no fígado pode ser diagnosticada?
O diagnóstico da esteatose hepática pode ser feito por meio de um conjunto de exames clínicos, laboratoriais e de imagem:
Exame clínico – “nós avaliamos se o paciente se queixa de fraqueza, sono excessivo e cansaço precoce. Também são sinais de alerta a pressão arterial um pouco elevada (sistólica superior a 130 mmHg e diastólica maior que 85 mmHg) e circunferência abdominal maior que 102 cm em homens e 88 cm em mulheres”, explica o médico.
Exames laboratoriais – “a partir do exame de sangue, é possível suspeitar ou não da presença de esteatose hepática, de acordo com os resultados”:
- VHS maior que 20 – exame usado para detectar se há alguma inflamação ou infecção no organismo;
- Triglicerídeos maior que 150;
- Colesterol total maior que 190 ou VLDL maior que 30;
- TGO e TGP elevados – identificam possíveis problemas no fígado;
- Gama GT elevada – avalia alterações hepáticas;
- Fosfatase alcalina elevada – também indica possíveis problemas no fígado e/ou vesícula biliar.
Exames de imagem – “o médico pode pedir ultrassonografia de abdome simples e ressonância magnética de abdômen para ajudar a determinar a gravidade da esteatose, que é classificada de acordo com a taxa de gordura presente no fígado”:
- Leve – de 6 % a 17%;
- Moderada – 17 a 22%;
- Grave – maior que 22%.
Biópsia do fígado – é o exame mais preciso para identificar a causa e verificar o grau de inflamação do fígado. O procedimento é realizado com anestesia local, de forma percutânea, com ajuda de uma agulha ou cateter, e pode ser guiado por ultrassonografia ou por videolaparoscopia.
É possível reverter a gordura no fígado?
A reversão da gordura no fígado pode ser conseguida principalmente com alterações dos hábitos alimentares e de vida. Além disso, pode ser necessário usar alguns medicamentos e tratar problemas de saúde associados.
Mudança de hábitos – “inclui dietas com restrição de gorduras, açúcares, massas e carboidratos, a proibição de bebidas alcoólicas e até mesmo cervejas não alcoólicas e a obrigatoriedade de exercícios físicos diários”, aponta o Dr. Jefferson.
Uso de medicamentos – “a reversão medicamentosa da gordura no fígado usa remédios para colesterol e suplementos de ômega 3, silimarina e vitaminas”, explica.
Doenças associadas – parte das pessoas com gordura no fígado desenvolvem também outros problemas de saúde, como síndrome metabólica e refluxo gastroesofágico. “A síndrome metabólica pode ser tratada com cirurgia bariátrica. Já o refluxo, que costuma ser associado, pode ser tratado com medicamentos, dieta e até mesmo cirurgia antirefluxo”, afirma o médico.
Dr. Jefferson Claudio Murad é médico graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. Especialista e Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva e PhD em Cirurgia do Aparelho Digestivo pela Universidade de São Paulo. É cirurgião do aparelho digestivo do Leforte Morumbi.
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