A meningite é uma doença endêmica no Brasil e não é raro o surgimento de surtos. Na cidade de São Paulo, por exemplo, já foram registrados três surtos em 2022, sendo que o último atingiu até um bebê de dois meses de idade. A Dra. Evelyn Yandira M. Quiroga – que é neurologista pediátrica e atua no Hospital Leforte liberdade, da rede de saúde Dasa – explica que a meningite é um processo inflamatório que atinge as meninges, membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal. Existem alguns tipos de meningite e todos podem evoluir para um quadro grave.
O que é meningite e qual é causa dela?
A meningite é um processo inflamatório que atinge as meninges. A Dra. Evelyn conta que ela “pode ser causada por vírus, bactérias, fungos e parasitas ou acontecer em decorrência de traumas ou de doenças auto-imunitárias, como o lúpus”.
Qual tipo de meningite é mais frequente e qual é a forma mais grave?
“A meningite mais frequente é a de causa viral, sendo que os enterovírus (tipos de vírus que podem causar doenças respiratórias ou do tecido nervoso) são responsáveis por cerca de 80% dos casos. Os tipos mais graves, sem dúvida, são os causadas por bactérias, devido à intensidade dos sintomas, progressão potencialmente rápida e fulminante, além das sequelas pós-infecciosas, como regressão no neurodesenvolvimento, déficit cognitivo, alteração na função motora e epilepsia, entre outras”, conta a Dra. Evelyn.
Como a meningite é transmitida?
“As principais formas de transmissão são através do contato com fezes de pessoas contaminadas e por secreções respiratórias, como tosse e espirros. A transmissão fecal-oral acontece, principalmente, quando não é realizada a higiene correta das mãos, seja depois de usar o banheiro ou antes de comer”, conta a Dra. Evelyn. Entretanto, nem todas as pessoas irão evoluir com meningite depois, ressalta a médica. “Se a pessoa tiver uma boa resposta imunitária, pode ter somente sintomas respiratórios ou gastrointestinais”.
Mas as formas de transmissão podem variar conforme o tipo de agente causador da meningite:
- Meningite viral – a transmissão pode ser diferente conforme o tipo de vírus. No caso dos enterovírus, responsável pela maioria dos casos, ela é fecal-oral.
- Meningite bacteriana – geralmente, a transmissão acontece pela via respiratória, por meio de gotículas do nariz ou da boca que se espalham quando alguém doente tosse ou espirra.
- Meningite fúngica – não é transmitida de pessoa para pessoa, mas sim pela inalação de esporos de tipos de fungos que causam a doença, que podem estar no solo ou em excrementos de pássaros e morcegos.
- Meningite eosinofílica (causada por parasitas) – também não é transmitida de pessoa para pessoa. Acontece quando se ingere algum alimento que esteja contaminado por algum parasita que pode causar a doença. O agente principal é o verme Angiostrongylus cantomensis, presente nas secreções de caracóis, lesmas e caramujos e que chega nas pessoas através da ingestão de moluscos, caranguejos ou camarões que se alimentaram de lesmas ou caracóis contaminados.
Quais são os sinais e sintomas da meningite conforme o tipo de agente causador?
“Crianças mais velhas com meningite irão apresentar falta de apetite, prostração e vômitos não precedidos por náuseas, sensibilidade à luz, dor de cabeça e rigidez cervical. Já em lactentes (crianças até dois anos de idade), se evidencia irritabilidade e abaulamento da ‘moleirinha’. Nas meningites bacterianas, os sintomas citados se manifestam com maior intensidade, além de alteração no nível de consciência, convulsões e ‘manchas’ na pele vermelhas ou púrpuras”, diz a Dra. Evelyn.
Como é feito o diagnóstico de meningite?
Além da avaliação dos sintomas e da realização de exame físico adequado, é preciso fazer exames complementares que permitam confirmar o diagnóstico. A médica explica que o exame do “líquor é definido como padrão ouro para o diagnóstico. Em alguns casos, será necessária uma neuroimagem, solicitada pelo médico responsável após avaliação individualizada de cada caso”.
Como é feito o tratamento de meningite e quais os riscos de demora em iniciar?
Nos casos de meningite viral, diz a Dra. Evelyn, “o tratamento está dirigido aos sintomas apresentados pelo paciente e nem sempre precisa de internação hospitalar. Exceto em pacientes com sintomas intensos ou se não foi possível descartar uma meningite bacteriana na primeira abordagem”.
- Meningite viral – na maioria dos casos, não se faz tratamento com antivirais. Entretanto, em casos confirmados ou suspeitos de meningite pelo vírus do herpes, deve ser iniciada medicação antiviral. Geralmente, as pessoas se recuperam de forma espontânea, mas o tratamento sempre deve ser definido pela equipe médica que acompanha o caso.
- Meningite bacteriana – é preciso tratar com antibióticos endovenosos. Além, disso, é indicado tratamento de suporte dirigido aos sintomas.
- Meningite fúngica – o tratamento tem uma duração maior e é feito com medicação antifúngica, de acordo com o tipo de fungo causador da doença.
- Meningite por parasitas – é feita medicação sintomática e antiparasitária.
A Dra. Evelyn alerta que “quando o tratamento é adiado, principalmente em casos bacterianos, existe um aumento do risco de complicações como a formação de abscessos intracraniais, trombose, episódios convulsivos, aumento da pressão intracraniana e infecções generalizadas (sepse), podendo chegar até o óbito”.
Como prevenir a meningite?
Manter o calendário vacinal em dia é uma das principais formas de prevenção, conta a médica, “pois protege contra os principais micro-organismos que causam a doença. Entre elas, vale citar a vacina contra poliomielite, Haemophilus influenzae B, pneumocócicas conjugadas, meningocócica C ou ACWY e B, influenza, tríplice viral e varicela”.
“Também não devemos esquecer de manter uma alimentação nutritiva, bom tempo de sono e atividade física em crianças mais velhas para preservar um nível de resposta imunitária adequada”, conclui a Dra. Evelyn.
A Dra. Evelyn Yandira M. Quiroga se graduou em medicina na Universidad Del Valle (Bolívia), com revalidação do diploma no Brasil pelo exame Revalida, na Universidade Federal do Acre. Fez residência médica na área de pediatria, no Conjunto Hospitalar do Mandaqui (SP), e tem especialização área de neurologia infantil, pela Faculdade de Medicina do ABC (SP). A médica atua na área da neurologia infantil no Hospital Leforte Liberdade.
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