Os casos de tendinite vêm aumentando tanto no Brasil quanto no mundo, sendo mais frequentes na região do punho e da mão, o que pode ser causado até pelo uso excessivo do celular. Mas, o principal sintoma da condição, que é a dor no local afetado, também pode ser provocaddo por um outro problema, que é a bursite. Então, para entender o que é a tendinite, o que pode causá-la e a diferença entre ela e a bursite, leia a entrevista com o Dr. Guilherme do Val Sella, que é ortopedista e traumatologista do Hospital Leforte Liberdade.
O que é tendinite?
“A tendinite é a inflamação do tendão, que pode ter diversas causas, sejam elas agudas ou crônicas”, explica o Dr. Guilherme.
Causas agudas da tendinite – atualmente, as mais frequentes são derivadas de movimentos repetitivos. Por exemplo, em pacientes que fazem movimentos repetitivos frequentes por causa do trabalho, como eletricistas, mecânicos e digitadores. Isso causa uma sobrecarga muito grande no tendão, o que acaba levando a um processo inflamatório e à tendinite.
Causas crônicas da tendinite – podem ser derivadas de compressões. No ombro, por exemplo, uma compressão pode ocorrer por causa de um esporão ósseo que vai se chocando contra o tendão causando uma inflamação por trauma mecânico.
De uma forma geral, a prevalência de tendinite no Brasil e no mundo tem aumentado, conta o médico. “Não só com o advento dos computadores pessoais nos anos 1980, mas, principalmente, com o celular. Em função disso, os casos de tendinites dos punhos e das mãos têm crescido bastante”.
Quais são os principais sinais e sintomas de tendinite?
O especialista conta que “os principais sinais e sintomas de tendinite podem diferir um pouco dependendo da causa. Entretanto, uma característica geral é a dor na região afetada, por exemplo: na tendinite por movimento repetitivo no punho ou no polegar, ao pegar o celular para mexer nele, a dor aparece com maior evidência. Já na compressão do esporão que se dá no ombro, ao movimentar o braço para cima, ocorre o pinçamento do esporão com o tendão e isso leva à dor”. Além disso, tanto em uma como na outra, pode haver uma sensação de fraqueza na área afetada, especialmente durante ou após a atividade física.
Sintomas das tendinites por movimento repetitivo:
- Dor – acontece uma dor aguda ou latejante ao realizar movimento no local afetado. E depois de a pessoa passar o dia inteiro fazendo o movimento repetitivo, é possível que ela fique mais forte de noite porque o processo inflamatório está mais evidente;
- Inchaço – a área afetada pode parecer inchada ou inflamada;
- Sensibilidade – é possível que o local afetado fique sensível ao toque ou pressão;
- Rigidez – pode haver uma sensação de rigidez ou dificuldade em movimentar a área afetada.
Sintomas das tendinites por compressão:
- Dor – acontece uma dor aguda ou latejante ao realizar movimento no local afetado. Mas, quando a pessoa não movimenta o local, não há dor;
- Diminuição da amplitude de movimento – é possível acontecer uma sensação de dificuldade em movimentar a área afetada.
Quais são as diferenças entre tendinite e bursite?
“Como já vimos, tendinite é a inflamação do tendão”, diz o médico. “Já a bursite é inflamação da bursa, que é uma outra estrutura cuja função é mais a de absorção de impacto. Ela é uma pequena bolsa cheia de líquido, que fica onde um músculo ou um tendão roçam um osso e diminui o atrito entre as duas superfícies em movimento. Existem centenas delas em todo o corpo. Totalmente diferente do tendão, que é a estrutura que liga o músculo no osso e promove o movimento”.
“Toda vez que existe um atrito aumentado ou um impacto externo, a exemplo do esporão batendo, normalmente a pessoa tem bursite e tendinite associadas, uma vez que a bursa sempre se localiza próxima do tendão. Então, quando há um atrito no tendão, acontece na bursa também. Já quando a causa é mais inflamatória por esforço repetitivo, sem envolver nenhum tipo de impacto mecânico, normalmente ocorre mais a tendinite”.
“Os sintomas tanto da bursite quanto da tendinite são dores quando se faz o movimento na região afetada. Entretanto, na bursite propriamente dita, quando o paciente está em repouso, ela não dói. Diferentemente do tendão, que pode ocasionar também uma dor noturna, mais persistente”, explica o especialista.
Como é feito o diagnóstico de tendinite?
O Dr. Guilherme conta que “o diagnóstico da tendinite se dá, essencialmente, por exame físico onde as provas irritativas vão mostrar que o tendão está ou não inflamado. Se for necessário, exames de imagem também podem ser solicitados. Entre eles, temos o ultrassom, que tem uma eficácia menor do que a ressonância, que é o exame padrão ouro para o diagnóstico”.
A tendinite pode se tornar uma condição crônica?
“A tendinite pode se tornar crônica caso o que está causando a condição não seja alterado ou tratado”, adverte o médico.” Então, se temos movimentos repetitivos e eles continuarem, isso pode levar a uma cronicidade da inflamação. Assim como também se a causa for mecânica, com alguma compressão ou atrito, se isso não for corrigido, a tendinite se torna crônica”.
Como é o tratamento de quem tem tendinite?
“O tratamento consiste em resolver a causa do problema. Então, se a causa é o movimento repetitivo, existem algumas alternativas”, explica o Dr Guilherme. “Ou a pessoa para de fazer o movimento repetitivo – que é a grande dificuldade, porque isso envolve o trabalho da pessoa muitas vezes -, ou fazemos o fortalecimento desse tendão. Se conseguimos fortalecer o tendão, ele vai ter capacidade para aguentar e realizar as atividades repetitivas”.
“Agora, se a causa for mecânica, muitas vezes, é necessário restringir o movimento para que ela desapareça ou fazer bastante alongamento. Eventualmente, pode até ser indicado fazer procedimento cirúrgico para remover o que está causando compressão nesse tendão”, diz o médico.
O especialista ressalta que, hoje em dia, existem subespecialistas da ortopedia em várias áreas do corpo, que são:
- Ombro e cotovelo;
- Coluna;
- Mão e punho;
- Quadril;
- Joelho;
- Tornozelo e pé
Então, se a dor é em um determinado local, deve-se procurar um especialista naquela região do corpo. Sendo que “as causas mais comuns de tendinite acontecem na mão, cotovelo e ombro. Para esses casos, existe um ortopedista que é especializado em ombro e cotovelo, e um que é especializado em mão. Esse especialista vai avaliar o paciente, identificar a causa do problema e, a partir disso, orientar sobre o que deve ser feito”.
Quanto tempo pode durar uma tendinite?
“Uma tendinite pode durar o tempo que o agente causador estiver presente”, diz o especialista. Ele alerta que “é possível que o problema evolua durante anos, até o momento em que o tendão pode não aguentar e romper”.
“Quando isso acontece, a dor pode até melhorar eventualmente porque o tendão deixa de ficar inflamado, uma vez que rompeu. Porém, a função dele não vai mais ser realizada. Ou seja, se ele é responsável pela realização de algum movimento, esse movimento é perdido, o paciente não consegue mais fazê-lo”.
É possível prevenir a tendinite ou diminuir o risco de desenvolvê-la?
O Dr. Guilherme conta que é possível prevenir ou diminuir o risco de tendinite. “Quem vai atuar em áreas onde já se prevê a necessidade de executar movimentos repetitivos, é importante, de antemão, fazer um fortalecimento e alongamento. A exemplo dos alongamentos laborais, que muitas empresas disponibilizam para os colaboradores. Porque, assim, a pessoa fortalece e prepara o tendão para o tipo de atividade a que ele vai ser submetido nas próximas horas”.
“Com relação à tendinite mecânica, já é um tanto mais difícil prevenir”, porque isso depende um pouco da própria degeneração da articulação do paciente, o que pode ser difícil de evitar. Alguns tipos de exercícios na academia, por exemplo, podem ajudar. Entretanto, não é algo que se possa aplicar em todos os casos de tendinite desse tipo. Mas, seja como for, a partir do momento que a pessoa tem uma dor que incomoda e persista, é necessário procurar um especialista, um médico ortopedista”, finaliza
O Dr. Guilherme do Val Sella é ortopedista e traumatologista. É formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde também fez residência médica e especialização em cirurgia do ombro e cotovelo no Departamento de Ortopedia e Traumatologia. Além disso, fez mestrado e doutorado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Possui dezenas de trabalhos publicados na Revista Brasileira de Ortopedia e é autor de vários capítulos de livros, além de ser preceptor e tutor do Ambulatório de Ortopedia na Universidade Municipal de São Caetano do Sul. No hospital Leforte Liberdade, atua como médico ortopedista desde 2006.
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