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Alergia e Imunologia

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Alergia em crianças: o que pode causar e quando é necessário levar para o pronto-socorro?

Saiba, no site do Leforte, o que é alergia em crianças, as causas, como prevenir e quais sinais indicam que a criança precisa de socorro imediato.
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Equipe Leforte - Equipe Leforte Atualizado em 08/07/2022

A manifestação de alergia em crianças é bastante frequente. A asma, por exemplo, afeta cerca de 20% das crianças e adolescentes no Brasil e é responsável pela morte de duas mil pessoas por ano no País. Já a rinite alérgica atinge em torno de 12,5% das crianças brasileiras entre os seis e sete anos e cerca de 20% dos adolescentes de 13 a 14 anos. Para falar sobre o assunto, o Leforte convidou o O Dr. Jair Marcelo Kuhn, que é médico pediatra.

ALERGIA EM CRIANÇAS – o que é uma alergia?

DR. JAIR MARCELO KUHN – alergia é uma manifestação do sistema imunológico em resposta ao que chamamos de antígeno, que é qualquer substância que o organismo interprete ou encare como um eventual agressor. Esses antígenos podem ser:

Aeroalérgenos – substâncias que estão em suspensão, em partículas no ar.

Produtos de excrementos de ácaros – esses bichinhos invisíveis se alimentam da poeira domiciliar, de restos de pele e de cabelo. Eles vivem, principalmente, na região dos quartos, nas camas, travesseiros, colchões e cobertores. Aliás, a maior possibilidade de alergia, do contato com o alérgeno, está, principalmente, em casa. O inimigo não mora ao lado, mas sim dentro de casa. Principalmente nos dormitórios. Por isso que a higiene dos ambientes é tão importante, assim como mantê-los saudáveis, sem muita poeira, carpete, cortinas, bonecos de pelúcia e coisas que acumulem poeira.

Ambiente – é uma outra coisa que pode ser encarada como um fator alergênico. Principalmente nos grandes conglomerados urbanos, onde existem polos industriais permeadas por polos residenciais sem respeitar delimitações de áreas, como é feito em alguns países mais desenvolvidos. Então, as pessoas são levadas a morar ao lado de indústrias, a exemplo do que acontece no ABC Paulista, onde se vê a dificuldade no controle de quadros alérgicos porque o ambiente é desfavorável. Nesses casos, você pode ter o maior arsenal possível de medicamentos que, se o fator desencadeador não for retirado, é a mesma coisa que ficar enxugando uma pedra de gelo.

Toxinas – quando insetos picam alguém, por exemplo, deixam na pessoa toxinas que podem, em quem tem uma certa propensão, deflagrar uma resposta alérgica com possibilidade de ser maior ou menor em função do que chamamos de genética individual. Ou seja, se a pessoa já nasce com uma certa disposição, ao ser confrontada com esses antígenos, vai ter um maior ou menor grau de resposta. Mas existem pessoas que não tem qualquer grau de resposta alérgica muitas vezes, o que explica por que isso não é algo que aconteça em 100% dos seres humanos.

Alérgenos orais ou alimentares – são dados pelos corantes e pela química utilizada nos alimentos super industrializados para que fiquem com sabor melhor, com duração mais prolongada, para conservar das bactérias e da degradação do próprio alimento. Eles, por si, também são fatores que podem ser deflagradores ou desencadeantes de quadros alérgicos. Então, tem uma miríade de situações que podem levar à agressões que vão redundar em alergia.

Em relação à predisposição genética para alergia, somente um percentual da população tem, principalmente devido a uma herança paterna ou materna. Mas, quando essa herança vem dos dois, as chances do desencadeamento de quadros alérgicos são ainda maiores.

ALERGIA EM CRIANÇAS – então, quando os pais são alérgicos, os filhos também serão?

DR. JAIR MARCELO KUHN – não dá para ter 100% de certeza, mas existe um percentual muito elevado quando um dos genitores, ou pai ou mãe, são atópicos. Ou seja, tem histórico de alergia. Mas, quando os dois são alérgicos, a probabilidade aumenta ainda mais. O histórico familiar pregresso de alergia é algo bastante considerado para o fechamento do diagnóstico, tem muita influência.

ALERGIA EM CRIANÇAS – quais tipos são vistos com mais frequência nos consultórios de pediatria?

DR. JAIR MARCELO KUHN – geralmente, nos consultórios de pediatria, o que chama mais a atenção são as alergias respiratórias, como rinites e crises asmáticas. Os processos respiratórios, geralmente, são os predominantes em termos de manifestação alérgica na infância. Os quadros de pele também vemos com bastante frequência. São os eczemas, que chamamos de dermatites atópicas, que são respostas alérgicas da pele ao ter contato com tecidos, substâncias, ou produtos diferentes.

Nos últimos anos, também parece estar aumentado os quadros de alergia alimentar. Isso pode acontecer por alguns fatores:

Aleitamento – decréscimo no estímulo ou no prolongamento do aleitamento materno.

Alimentos – introdução precoce de alimentos em idades muito tenras, o que abre a possibilidade de quebra de barreira intestinal, com exposição e apresentação desses antígenos na corrente sanguínea, deflagrando quadros alérgicos precoces em lactentes, que são as crianças de zero a dois anos de vida.

ALERGIA EM CRIANÇAS – existem tipos que costumam se manifestar com mais frequência em algum período do ano?

DR. JAIR MARCELO KUHN – antigamente, falávamos muito em doenças com sazonalidade. Ou seja, doenças que aparecem em determinadas etapas do ano porque são mais prevalentes por condições ambientais, climáticas. Entretanto, estamos tendo uma alteração climática muito importante. As fronteiras antes bem delimitadas entre as estações do ano, atualmente, foram derrubadas, não existem mais. Temos frio no verão e calor no inverno.

Já não dá mais para apostar que haverá, em determinada época do ano, um aumento de determinados quadros alérgicos. Mas, sem dúvida nenhuma, nos meses frios, pela concentração das pessoas em lugares fechados e com menos ventilação, sabemos que as crianças, principalmente as que frequentavam escolinhas e berçário, estão mais expostas aos vírus e tem uma vulnerabilidade maior à manifestação de quadros alérgicos, como rinites e crises de bronquite asmática.

Entretanto, como eu falei, não existe mais essa mudança muito perceptível de estação. Então, hoje em dia, as manifestações acontecem no ano inteiro praticamente. Temos recebido crianças com manifestações alérgicas em todas as estações do ano.

ALERGIA EM CRIANÇAS – quais sinais e sintomas indicam que a criança precisa de socorro imediato?

DR. JAIR MARCELO KUHN – o quadro mais gritante, mais urgente que temos dentro do espectro alérgico é o que chamamos de choque anafilático ou reação anafilática a um determinado antígeno. O choque anafilático é uma manifestação aguda, instantânea e exige um rápido atendimento. É uma emergência médica importante porque leva, se não for prontamente atendida, a um risco de morte bastante alto para o indivíduo.

É uma explosão de reação alérgica aguda, na qual acontece extravasamento de elementos figurados na corrente sanguínea e edema de tecidos. A principal região onde começa a ter esse edema é na área do pescoço que chamamos de laringe, onde está a glote e as cordas vocais. É o tão conhecido e famigerado edema de glote, que é o fechamento por constrição. Ou seja, há um estreitamento da passagem do ar e a pessoa entra em falência respiratória por não conseguir fazer troca de gasosa.

Se não houver uma atenção imediata, realmente pode ter um desfecho muito ruim, que é a morte. Para reverter esse quadro agudo, a pessoa precisa receber medicamentos de pronta ação ou, dependendo do caso, passar por uma eventual traqueostomia para abrir uma via aérea na região da traqueia abaixo da onde está muito edemaciado para que o ar possa entrar no pulmão. O choque anafilático é uma das manifestações mais graves de alergia e necessita de pronta ação.

Outra manifestação que precisa de atendimento imediato é a crise aguda de asma, que chamamos de broncoespasmo. Nela, acontece a constrição, o fechamento das vias aéreas dos brônquios principalmente, que são os “canudinhos” que levam ar para o pulmão. Eles acabam tendo uma constrição por reação alérgica e isso faz com que o ar não consiga penetrar e sair dos pulmões. Então, não há troca gasosa suficiente e a criança ou o adulto que entra nessa crise asmática tem uma progressão de falta de ar, com quadro de tosse, dificuldade respiratória progressiva e afundamento da região de fúrcula esternal, que é a região na parte baixa do pescoço.

Além disso, com o esforço que a criança vai fazendo para respirar, há retrações subcostais ou costais. Então, abaixo da costela acontece um afundamento pela tentativa do aparelho respiratório compensar a falta de troca gasosa, a falta de ar. O broncoespasmo merece também um pronto atendimento, pois, do contrário, vai caminhando para o que chamamos de hipoxemia, que é a baixa oxigenação do sangue. O que leva à falta de oxigenação no cérebro e nos tecidos. Se esse quadro não for revertido, também é um caminho para um desfecho fatal.

O ideal é que as crianças sejam sempre acompanhadas por um clínico pediatra. E, uma vez diagnosticadas com síndromes alérgicas, quadros alérgicos, talvez também seja necessária a assistência de um alergista ou de um pneumologista pediátrico para que se faça o que chamamos de profilaxia, que é a prevenção da exacerbação e do aparecimento das crises.

Mesmo quando as crianças são bem acompanhadas, por vezes, devido a diversos fatores, elas podem, eventualmente, entrar em uma crise. Quando isso acontece, geralmente, a progressão da falta de ar causa dificuldade da criança fazer as atividades diárias. Então, por exemplo, os pequenos não conseguem engatinhar ou andar, dão poucos passos e já se cansam, crianças maiores não conseguem jogar bola, brincar ou correr, precisam ficar sentadas.

Então, os pais devem ficar atentos a essas situações. E, sem dúvida alguma, mesmo que pareça um excesso de zelo, vale a pena levar a criança para um pronto atendimento para que seja feito um diagnóstico através de ausculta, oximetria – que é dosagem da saturação no sangue -, o quadro e o exame clínico. Nessas situações já há condições de fazer terapias que chamamos de resgate, para retirar esse paciente da crise para que ela não caminhe a passos largos para uma piora progressiva.

ALERGIA EM CRIANÇAS – o que é possível fazer para prevenir?

DR. JAIR MARCELO KUHN – ao falarmos de alergia, entendemos hoje que a prevenção é mais importante até do que o tratamento e começa já desde a fecundação, do útero. Então, é importante que a mãe receba uma boa orientação, tenha uma dieta adequada e saia daquilo que chamamos de estado inflamatório.

Pois sabemos, atualmente, que a inflamação tem bastante conexão com os quadros alérgicos. A inflamação não é somente ter dor, rubor, calor, vermelhidão. Quando a mãe tem uma dieta não muito equilibrada, uma microbiota desbalanceada e um mau funcionamento intestinal, isso pode causar um nível inflamatório no corpo e redundar na transmissão desses agentes inflamatórios para o útero e, em última instância, para o bebê.

Desde o útero, o bebê começa a ter informações e contato com antígenos que ele não teria se a mãe dispusesse de orientação adequada e adotasse cuidados de um pré-natal com padrões próximos da excelência. Esse também é um dos fatores que faz com que haja aumento do número de quadros alérgicos, segundo teorias atuais. Mas não só devido à exposição aos fatores alimentares maternos, também ao tabagismo, se a mãe tiver esse hábito durante a gravidez, e à ingesta de substâncias alcoólicas.

Então, para ajudar a prevenir alergia em crianças, é importante fazer o seguinte:

Cuidados pré-natais – a prevenção começa no útero da mãe, na gestação. Ela precisa ter bons hábitos com uma boa orientação dietética, sem a ingesta de alimentos que são pró inflamatórios;

Amamentação – é muito importante estimular o aleitamento materno porque, sem dúvida, ele é um fator protetivo bastante importante no que tange a não exposição da microbiota intestinal á substâncias que possam ser antigênicas.

Tabagismo – quem mora com a criança deve evitar o tabagismo, não só os pais. Mesmo fumando apenas fora de casa tem problema, pois o fumo impregna nos tecidos e em região corpóreas onde a criança pode inalar as substâncias presentes no tabaco.

Higiene ambiental – evitar ambientes com muita umidade, bolor ou mofo, pois tem fungos, cuja respiração pode desencadear quadros alérgicos respiratórios. Também é preciso ter cuidado com tapetes, carpete, bicho de pelúcia e acúmulo de objetos, além de trocar constantemente a roupa de cama e procurar ventilar e deixar o sol entrar nos ambientes para evitar ou mitigar a reprodução do ácaro, pois os excrementos deles ficam em suspensão no ar e podem provocar quadros respiratórios graves.

Produtos de limpeza – evitar domissanitários com odores muito fortes, pois o cheiro também é um dos fatores que pode desencadear crises de alergia em crianças.

Alimentação – seguir com pediatra o que chamamos de puericultura, que é a orientação de cuidados com a criança no primeiro ano de vida, para que haja a introdução de alimentos só nas etapas adequadas, quando o aparelho digestório está mais maturado para receber os que poderiam deflagrar manifestação alérgica se fossem dados muito precocemente.

Estímulos ao sistema imunológico – é importante sim que a criança tenha contato com diversos objetos ao longo do tempo, com a maturação que ela vai adquirindo, para que o sistema imune comece a ser estimulado a trabalhar reconhecendo os antígenos e a desenvolver uma resposta mais equilibrada. O que não acontece quando a criança é cercada de cuidados excessivos, não pode tocar nas coisas, tem as mãos desinfetadas o tempo e o ambiente é esterilizado. Tudo isso, aparentemente, é benéfico, protetivo. Mas, no fim das contas, quando essa criança entra em contato com uma carga de antígeno maior, por não ter essa resposta mais modulada, mais equilibrada, ela começa a apresentar manifestações alérgicas mais explosivas.

Lógico que você não vai deixar o seu filho em um lixão, mas é importante sim que a criança tenha contato com antígenos que estão na natureza e que sempre estiveram. Ela deve ir nos parques, tocar nos objetos e levar a mão um pouco mais suja na boca eventualmente. Pois isso é uma forma de garantir que o sistema imunológico dela reconheça, neutralize e equilibre a resposta imune para trabalhar normalmente.

O Dr. Jair Marcelo Kuhn formou-se em 1987 na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, tendo feito residência médica em pediatria e terapia intensa pela Santa Casa de São Paulo. Tem título de especialista em pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria, de especialista em terapia intensiva pediátrica pela Associação de medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e de especialista em neonatologia pelo Congresso Brasileiro de Perinatologia. Também possui formação em nova medicina germânica e hipnoterapia – OMNI e reprogramação mental pela Sociedade Interamericana de Hipnose.

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Este conteúdo é meramente informativo e educativo, sendo destinado para o público em geral. Ele não substitui a consulta e o aconselhamento com o médico e não deve ser utilizado para autodiagnóstico ou automedicação. Se você tiver algum problema de saúde ou dúvidas a respeito, consulte um médico. Somente ele está habilitado fazer o diagnóstico, a prescrever o tratamento mais adequado para cada caso e acompanhar a evolução do quadro de saúde do paciente.

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