Com o avanço da vacinação e a queda nos indicadores de morbidade e de mortalidade relacionados à covid-19, as praias e os espaços abertos voltarão a ser ocupados com mais intensidade neste verão. Mas é importante lembrar que, além dos cuidados de prevenção ao coronavírus, são necessárias medidas para minimizar o risco de câncer de pele, que é o tumor de maior incidência no Brasil. Esta é a mensagem da campanha Dezembro Laranja, promovida Sociedade Brasileira de Dermatologia. Para falar sobre o tema, convidamos a Dra. Juliana Calixtro, médica dermatologista do Grupo Leforte.
Quais tipos de câncer de pele existem, quais são os mais comuns e a incidência deles no Brasil?
DRA. JULIANA CALIXTRO – O câncer de pele é um tumor frequente, correspondendo a 33% de todos os diagnósticos desta doença no Brasil. O tipo mais comum, o câncer de pele não melanoma, tem letalidade baixa, com altos percentuais de cura se for detectado e tratado precocemente. Porém, se não tratado adequadamente, pode deixar mutilações significativas. Sua incidência é alta, cerca de 166 mil novos casos por ano. O câncer de pele não melanoma apresenta tumores de diferentes tipos. Os mais frequentes são os carcinomas basocelulares e carninoma espinocelular.
Mais raro e letal que os carcinomas, o melanoma é o tipo mais agressivo, devido à sua alta possibilidade de provocar metástase (disseminação do câncer para outros órgãos). Atualmente houve grande melhora da sobrevida dos pacientes com melanoma, devido à detecção precoce do tumor e introdução de novos medicamentos imunoterápicos. Representa cerca de 3% dos tumores de pele, com registro de 8.450 novos casos no Brasil.
Quais são as características dos principais tipos de câncer de pele?
DRA. JULIANA CALIXTRO – As características são as seguintes:
- Manchas avermelhadas, descamativas; algumas vezes parecidas com verrugas;
- Pápulas (lesões pequenas) com crosta central;
- Pinta enegrecida, que pode coçar;
- Sinais que se modificam;
- Feridas que não cicatrizam, sangram com facilidade.
Surgem normalmente nas áreas do corpo mais expostas ao sol, como face, orelhas, pescoço, couro cabeludo, ombro e costas.
Quais são os sinais que as pessoas devem ficar atentas para suspeitar dos principais tipos de câncer de pele?
DRA. JULIANA CALIXTRO – Feridas que não cicatrizam, que sangram frequentemente, que aumentam em tamanho ou que se modificam.
O que pode aumentar o risco dos principais tipos de câncer de pele?
DRA. JULIANA CALIXTRO – Os fatores de risco são:
- Ter pele e olhos claros, com cabelos ruivos ou loiros, ou ser albino;
- Exposição prolongada e repetida ao sol;
- Exposição a câmaras de bronzeamento artificial;
- Ter história familiar ou pessoal de câncer de pele.
O que pode ser feito para prevenir ou diminiuir o risco?
DRA. JULIANA CALIXTRO – As medidas para prevenir o câncer de pele são:
- Evitar exposição prolongada ao sol no horário das 10h às 16h;
- Usar filtro solar diariamente com fator de proteção 30, que contenha proteção para radiação UVA e UVB. Lembrar de reaplicar a cada 2h quando estiver exposto ao sol;
- Usar chapéus de aba larga, camisetas, óculos escuros e sombrinha;
- Na praia ou piscina, usar barracas feitas de algodão ou lona, que absorvem 50% da radiação ultravioleta;
- Consultar um dertmatologistas pelo menos uma vez ao ano.
Como é feito o diagnóstico?
DRA. JULIANA CALIXTRO – O diagnóstico é feito por um médico dermatologista através do exame clínico. Em alguns casos, é necessário realizar a dermatoscopia, exame no qual se usa um aparelho que permite visualizar algumas estruturas da pele não vistas a olho nu. Também há situações em que é necessário fazer a biópsia de pele (procedimento no qual um pequeno fragmento da pele é retirado para análise patológica).
O exame ABCDE é uma ferramenta válida de autoavaliação? Caso positivo, como fazê-lo?
DRA. JULIANA CALIXTRO – A regra do ABCDE é um método indicado para reconhecer manifestações sugestivas do câncer de pele do tipo melanoma. Ao se identificar essas alterações, é necessário que se procure um médico dermatologista.
Então, para avaliar se um sinal em seu corpo é inofensivo ou indício de melanoma durante um autoexame de pele, é possível usar a regra ABCDE, que são as iniciais de:
- Assimetria – uma metade é diferente da outra;
- Bordas irregulares – e de final abrupto;
- Cor – dois ou mais tons;
- Diâmetro – maior que seis milímetros;
- Evolução – mudança ou crescimento recente.
Qual a importância do diagnóstico precoce?
DRA. JULIANA CALIXTRO – Quando o câncer de pele é diagnosticado precocemente, a chance de cura é maior. Isso porque, nos estágios iniciais, os tumores se encontram nas camadas superficiais da pele, facilitando toda a remoção cirúrgica e a cura. Nos estágios mais avançados, a lesão é mais profunda, o que aumenta a chance de invasão local e de se espalhar para outros órgãos, reduzindo as chances de cura.
Como são os tratamentos de câncer dependendo do estágio em que estiverem?
DRA. JULIANA CALIXTRO – A cirurgia é o tratamento mais indicado, tanto nos casos de carcinoma basocelular como no carninoma epidermoide. Dependendo do estado geral do paciente, fase de evolução do câncer e o tipo, podem ser realizados os seguintes tratamentos:
Cirurgia micrografica de Mohs – é indicada em casos de tumores em áreas de risco, principalmente no rosto e tumores mal delimitados. Com essa técnica, é possível identificar e remover todo o tumor, preservando a pele sã em torno da lesão. O procedimento consiste na retirada do câncer de pele, camada por camada, e do exame de cada uma delas ao microscópio, até a remoção completa do tumor.
Cirurgia para remoção simples – remoção de todo o tumor, e também de uma borda de pele sadia, como margem de segurança.
Curetagem e eletrodissecção – usados em tumores menores. São retirados e, em seguida, é utilizado um bisturi elétrico que destrói as células cancerígenas. Não é recomendável para tumores invasivos.
Criocirurgia – promove a destruição do tumor através do congelamento. Não há cortes ou sangramentos. Também não é recomendável para tumores mais invasivos.
Terapia fotodinâmica – uso de creme fotossensível e posterior aplicação de uma fonte de luz. É uma opção terapêutica para as lesões pré-cancerígenas e tumores pequenos e superficiais.
Nos casos avançados, pode ser necessário associar a cirurgia com radioterapia.
O tratamento do melanoma varia conforme a extensão, localização do tumor, tipo e condições de saúde do paciente. O melanoma é um tumor agressivo, com grande facilidade para se disseminar para outros órgãos (metástase), por isso é importante que se faça o diagnóstico nos estágios iniciais, tendo assim grandes chances de cura através da cirurgia. Quando se espalha pelo corpo, o tratamento se torna mais difícil e o tumor não pode mais ser curado cirurgicamente. Porém, o tratamento do melanoma metastático teve um grande avanço na última década, com surgimento de medicamentos novos (imunoterapia e terapia-alvo) que prolongam a vida e, em alguns casos, podem resultar até no desaparecimento das metástases.
A Dra. Juliana de Oliveira Calixtro tem especialização em dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia – SBD, da qual é membro. É médica colaboradora no Ambulatório de Urticária e Farmacodermia do Grupo de Dermatoses Imunoambientais do Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP e integra o corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein. Também é médica dermatologista do Grupo Leforte, atendendo na Clínica e Diagnósticos Leforte Morumbi às segundas-feiras, no período da tarde, e às quartas-feiras, no período da manhã.
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Este conteúdo é meramente informativo e educativo, sendo destinado para o público em geral. Ele não substitui a consulta e o aconselhamento com o médico e não deve ser utilizado para autodiagnóstico ou automedicação. Se você tiver algum problema de saúde ou dúvidas a respeito, consulte um médico. Somente ele está habilitado fazer o diagnóstico, a prescrever o tratamento mais adequado para cada caso e acompanhar a evolução do quadro de saúde do paciente.