A imunoterapia é um dos tipos de tratamento de câncer que usa as próprias células do sistema imunológico para combater as células malignas. A aplicação dessa terapia para o câncer colorretal têm alcançado ótimos resultados em pacientes, além de menos efeitos colaterais que outras abordagens de tratamentos. O Leforte conversou com o Dr. Marcos André Nunes, médico oncologista, que explica como funciona e quais as indicações da imunoterapia para o tratamento do câncer.
IMUNOTERAPIA – o que é e qual o papel dessa abordagem no tratamento oncológico em geral?
DR. MARCOS NUNES – Imunoterapia é uma modalidade de tratamento que envolve a utilização do próprio sistema imunológico do paciente no combate às células malignas no organismo. Diferentemente do mecanismo de ação geral das quimioterapias, que atuam diretamente nas células neoplásicas, a imunoterapia gera uma ativação ou reativação do sistema imunológico do indivíduo para que ele possa reconhecer essas células doentes e atue sobre elas, causando a sua morte.
As indicações de tratamento com imunoterapia na oncologia têm crescido a cada ano, gerando a necessidade de uma atualização constante sobre os tratamentos para os diferentes tipos e estágios de cânceres. Além disso, a resposta dos tumores a imunoterapia pode ser bastante heterogênea. Há tumores, como o melanoma, que em geral responde muito bem a essa modalidade de tratamento, com respostas duradouras, redução importante dos tumores ou mesmo eventual resposta completa num contexto de doença metastática. Por outro lado, existem vários outros tipos de tumores que respondem pouco ou não respondem a imunoterapia.
IMUNOTERAPIA – no caso do câncer colorretal, quais as indicações para esse tipo de tratamento?
DR. MARCOS NUNES – para definir a melhor forma de tratar o câncer colorretal, precisamos avaliar inicialmente se estamos diante de uma doença localizada ou doença metastática. Se doença localizada ou mesmo com algumas metástases operáveis, o tratamento terá intenção curativa e envolve cirurgia com ou sem quimio e radioterapia, a depender da localização e extensão da doença.
Entretanto, se a doença for considerada metastática em vários pontos e sem proposta de tratamento curativo, indicaremos tratamento oncológico com objetivo de controlar a doença. Para indicar o melhor tratamento possível nessas condições é preciso saber mais algumas informações sobre o tumor, junto ao setor da patologia. Dentre elas, se há instabilidade microssatélite. Se presente, há forte evidência de que esses subtipos de tumores se beneficiarão da imunoterapia, sendo a terapia de primeira escolha.
IMUNOTERAPIA – a imunoterapia pode ser realizada em conjunto com outros tratamentos para o câncer? Como isso ocorre?
DR. MARCOS NUNES – a imunoterapia está sendo estudada em vários tumores e de diferentes formas. Uma dessas formas é o uso combinado com quimioterapia. Vários estudos já mostraram benefícios desse uso combinado, em especial no contexto de doença metastática. Hoje temos evidência para esse uso em alguns tumores de pescoço, de pulmão, de esôfago, estômago, mama e fígado, por exemplo.
IMUNOTERAPIA – há dados sobre a eficácia do tratamento de imunoterapia para o câncer colorretal? O que se sabe sobre isso?
DR. MARCOS NUNES – a melhor evidência de uso da imunoterapia no câncer colorretal hoje é no contexto de doença metastática naquele subgrupo com instabilidade microssatélite. Essa população, que representa uma porcentagem pequena de todos os pacientes com câncer colorretal, pode ter a doença controlada por anos com essa terapia, o que é um grande avanço no tratamento contra o câncer metastático.
IMUNOTERAPIA – Quais os efeitos colaterais que a imunoterapia pode causar no paciente?
DR. MARCOS NUNES – Uma das grandes vantagens da imunoterapia é o perfil de efeitos colaterais. Comparados com os da quimioterapia convencional, os efeitos colaterais da imunoterapia costumam ser mais brandos. Os mais comuns são manchas na pele, coceira, diarreia e indisposição. Pode haver efeitos colaterais mais graves durante o tratamento, mas eles são raros. O oncologista deve sempre acompanhar de perto esses pacientes e considerar pausar ou mesmo suspender o tratamento numa eventual reação grave ao medicamento.
IMUNOTERAPIA – enquanto está em tratamento, o paciente pode levar uma vida normal? Existem cuidados que ele deve ter?
DR. MARCOS NUNES – como os efeitos colaterais da imunoterapia em geral são mais brandos, o paciente pode levar uma vida praticamente normal durante o tratamento. Não há queda de cabelo e não há grandes preocupações com queda da imunidade e riscos de infeções, como no caso de algumas quimioterapias.
A depender dos sintomas caudados pela própria doença, se bem controlados, o paciente pode manter seus hábitos normalmente ou mesmo desenvolver novos hábitos, como atividade física e atividades de lazer. Qualquer sintoma novo para pacientes em tratamento oncológico, independente da modalidade, deve ser informado ao seu médico. Esse talvez seja o maior cuidado a ser mantido.
Dr. Marcos André Lima Nunes é médico oncologista pelo Instituto do Câncer da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Integra o time de oncologistas clínicos da Rede Ímpar/DASA, atuando na assessoria de gestão hospitalar e como oncologista clínico nos hospitais Leforte Liberdade e Leforte Morumbi. Atende na Clínica e Diagnósticos Liberdade às terças e sextas-feiras, no período da manhã, e às quintas-feiras, no período da tarde, e na Clínica e Diagnósticos Morumbi às quartas e quintas-feiras, pela manhã.
Conteúdos relacionados no site do Leforte
- Como é feito o diagnóstico do câncer e quantos tipos existem?
- Março Azul Marinho: mês de conscientização sobre o câncer colorretal
- Cirurgias plásticas reparadoras ajudam pacientes a retomar qualidade de vida após tratamento de câncer
Este conteúdo é meramente informativo e educativo, sendo destinado para o público em geral. Ele não substitui a consulta e o aconselhamento com o médico e não deve ser utilizado para autodiagnóstico ou automedicação. Se você tiver algum problema de saúde ou dúvidas a respeito, consulte um médico. Somente ele está habilitado fazer o diagnóstico, a prescrever o tratamento mais adequado para cada caso e acompanhar a evolução do quadro de saúde do paciente.