Uma em cada quatro mulheres terá dor pélvica durante seis meses ou mais ao longo da vida, o que pode interferir nas atividades cotidianas e ser intensa o suficiente para necessitar de tratamento clínico ou até cirurgia. Para falar sobre o assunto e explicar quais são as principais causas e como o problema pode ser tratado, o Leforte convidou o Dr. Stênio Deslandes, que é médico ginecologista.
O que é dor pélvica?
“A dor pélvica se refere a toda percepção dolorosa que acomete a região do abdome, abaixo da cicatriz umbilical, podendo ser de curto prazo ou crônica. Para que a dor pélvica seja considerada crônica, ela deve durar, pelo menos, seis meses e não ser cíclica, ou seja, menstrual. Além disso, deve ser suficientemente intensa para interferir em atividades do dia a dia, necessitando de tratamento clínico ou cirúrgico” – diz o Dr. Stênio, que explica também como determinadas características da dor pélvica podem ajudar a definir a causa dela:
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Padrão da dor – a dor, tanto a dor pélvica crônica quanto a aguda, podem ter características diferentes que vão auxiliar no diagnóstico da causa, podendo ser de padrão cólica, queimação, pontada, fisgada.
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Localização da dor – pode ser mais difusa ou de algum ponto específico, sendo também um parâmetro importante para identificar o agente causador”, diz o especialista.
A dor pélvica é comum?
O Dr. Stênio relata que “a dor pélvica é uma queixa muito comum nos consultórios de ginecologia e, muitas vezes, não levada tão em conta devido à grande frequência com que ocorre. Alguns trabalhos mostram que a dor pélvica crônica é encontrado em até 25% da população feminina, ou seja, uma a cada quatro mulheres sofrem ou vão sofrer de dores pélvicas por mais de seis meses”.
Qual a causa da dor pélvica?
“A dor pélvica não tem obrigatoriamente um único agente causal. A pelve consiste em um arcabouço ósseo com uma musculatura que sustenta diferentes órgãos como intestino, bexiga, útero e vasos sanguíneos. Sendo assim, todas estruturas que compõem a pelve pode ser o causador da percepção dolorosa”. O Dr. Stênio conta que a ginecologia tem como principal diagnóstico de dor pélvica a endometriose, mas a causa pode ser:
- Pela bexiga – como na cistite intersticial;
- Pelo intestino – como na doença inflamatória intestinal e na síndrome de intestino irritável;
- Por varizes pélvicas – por exemplo, alteração nos vasos sanguíneos que carregam sangue de volta ao coração.
“Como uma das maiores causas de dor pélvica nas mulheres é endometriose, a fase de menacme – que é o período entre a primeira menstruação e a menopausa – é o principal período de dor pélvica. O diagnóstico de endometriose leva em média de seis a sete anos para ser dado, por isso, é importante levar em conta as queixas das pacientes para que elas não fiquem todo esse período sem tratamento e sofrendo”, alerta o médico.
A dor pélvica pode provocar outros problemas de saúde?
“Os problemas estão relacionados com a causa da dor pélvica e se esta causa proporciona algum outro problema para aquela mulher”, conta o especialista. “Por exemplo: na paciente com endometriose, a fertilidade pode estar prejudicada em associação com a dor. Além disso, no pós-menopausa, mulheres a partir de 50 anos (em média na mulher brasileira) a endometriose ovariana pode aumentar risco de câncer de ovário. Por isso, o ideal é identificar a causa e tratar de forma individual”.
Existem sintomas que, associados à dor pélvica, podem ser sinais de alerta em relação à seriedade do problema?
O Dr. Stênio adverte que existem “sintomas que podem estar relacionados a doenças pélvicas, como infecções ou endometriose”:
- Febre;
- Alteração de hábito intestinal;
- Alteração de hábito urinário;
- Sangramento nas fezes;
- Dor para ter relação sexual;
- Distensão ou aumento de volume abdominal;
- Alteração de sensibilidade;
- Perda de força em membros.
“O ideal é sempre que algo diferente estiver acontecendo, procurar o médico, além da consulta ao ginecologista de rotina anual”, diz o especialista.
Quando a mulher com dor pélvica deve consultar um médico?
“Sempre que a mulher perceber que algo diferente está acontecendo com ela, que seu corpo não está habituado, o ideal é procurar um médico para esclarecer as dúvidas e tentar entender se existe algo acontecendo. Então, em qualquer caso de dor, o ideal seria consultar um médico”, explica o especialista. “Além disso, pacientes em tratamento de dor crônica devem passar em seu médico de forma regular a cada ano, pelo menos, para manter em controle o tratamento que está realizando”.
Como o diagnóstico de dor pélvica é feito?
O Dr. Stênio relata que “o diagnóstico de dor pélvica é feito de forma clínica, com complementação do exame físico. A partir dos dados obtidos na consulta poderá, ou não necessariamente, ser solicitado alguns exames para diagnóstico da doença, como por exemplo, na paciente com endometriose. A paciente com endometriose após consulta deverá realizar para auxílio diagnóstico os exames: ressonância magnética de pelve e abdome com preparo intestinal ou ultrassom transvaginal com preparo intestinal”.
Como é o tratamento da dor pélvica?
“A dor pélvica vai ser tratada dependendo da sua causa. Por exemplo, algumas pacientes com endometriose – que é uma grande causa de dor pélvica – podem necessitar de tratamentos clínicos com hormônios, mudança de estilo de vida, fisioterapia ou cirurgia”, diz o especialista.
“Pacientes com doenças inflamatórias pélvicas necessitarão de antibiótico ou cirurgia. A síndrome do intestino irritável, outra causa de dor pélvica, será tratada de forma clínica e com mudança de hábitos de vida. Então, o tratamento é direcionado ao causador da dor pélvica, sendo ela crônica ou aguda”.
É possível diminuir o risco ou prevenir dor pélvica?
“A dor pélvica, como sintoma, não tem como ter prevenção. O que podemos prevenir são algumas doenças que causam dor pélvica. Por exemplo, a doença inflamatória pélvica, que pode ser evitada com o uso de preservativo, pois é causada, em sua maioria, por bactérias transmitidas na relação sexual. Além disso, alguns trabalhos mostram a relação entre a ingestão de alguns alimentos, como carne vermelha em excesso, e o aumento do risco de endometriose. Então, seguir o básico é fundamental: alimentação saudável, atividade física, relação sexual protegida e sono reparador – conclui o Dr. Stênio.
O Dr. Stênio Deslandes graduou-se em medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde fez residência médica em ginecologia e obstetrícia. Possui especialização em ginecologia endócrina e climatério pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), além dos títulos de especialista em ginecologia e obstetrícia, em endoscopia ginecológica e em reprodução assistida pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Também fez especialização em reprodução assistida pelo Instituto Ideia Fértil (FMABC) e pelo Hospital Santa Casa de São Paulo / Instituto Alpha, sendo Fellowship em endoscopia ginecológica pelo Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG).
Desenvolveu carreira na área de ginecologia e obstetrícia, com ênfase em cirurgia ginecológica minimamente invasiva, endometriose, infertilidade e tratamentos hormonais, atuando em instituições como o Hospital Leforte Morumbi.
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