A campanha Abril Marrom foi criada para conscientizar anualmente as pessoas sobre as doenças que podem causar problemas de visão e até cegueira, seus métodos de prevenção e tratamentos. Para falar sobre prevenção e combate à cegueira, o Grupo Leforte convidou o Dr. Guilherme Kappel, médico oftalmologista especializado em retina clínica e cirúrgica.
Qual o percentual de pessoas no Brasil com cegueira e com algum grau de deficiência visual?
DR. GUILHERME KAPPEL – Segundo o último levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), publicado em 2019, estima-se que no País existam cerca de um milhão e duzentos mil brasileiros cegos. Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que entre 60% e 80% desses casos de cegueira poderiam ter sido evitados se tivessem sido diagnosticados e tratados precocemente.
Quanto ao grau de deficiência visual, os dados que temos a respeito são de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE):
- Existem 6.056.654 de pessoas com baixa visão ou visão subnormal, ou seja, com grande e permanente dificuldade de enxergar;
- Outras 29 milhões de pessoas possuem alguma dificuldade permanente de enxergar, mesmo usando óculos ou lentes.
Quais as principais doenças que podem levar à cegueira na infância?
DR. GUILHERME KAPPEL – A Agência Internacional de Prevenção da Cegueira, que é ligada à Organização Mundial de Saúde, estima que no Brasil existam 33 mil crianças cegas devido a doenças oculares que poderiam ter sido evitadas ou tratadas precocemente. E que 100 mil, pelo menos, têm alguma deficiência visual.
As causas de cegueira em crianças podem ser hereditárias, ou seja, transmitidas entre as gerações da mesma família, e não hereditárias. As principais causas hereditárias são a distrofia retiniana, a catarata, a aniridia e o albinismo. Entre as não hereditárias estão a ambliopia (olho preguiçoso), erro refracional não corrigido, a privação de imagem na retina (por obstrução nos meios oculares), o estrabismo, algum trauma e doenças como sarampo e meningite.
Mas também existem doenças que se a mãe tiver durante a gravidez podem afetar a visão da criança, como a rubéola e a toxoplasmose. Além disso, se a mãe consumir bebidas alcoólicas durante a gestação, a visão da criança pode ser prejudicada. Outro fator de risco, mas esse na infância, é a carência de vitamina A.
Quais as principais doenças que podem levar à cegueira nos adultos?
DR. GUILHERME KAPPEL – Em adultos e idosos, as principais causas de cegueira e baixa visão estão associadas ao envelhecimento da população. A cegueira pode ser não reversível quando provocada por glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular relacionada à idade (DMRI). No entanto, a baixa visão por falta de prescrição de óculos ou a cegueira provocada pela catarata, podem ser revertidas com a cirurgia de catarata e o implante de lente intraocular.
Como agem as principais doenças que podem levar à cegueira?
DR. GUILHERME KAPPEL – Vamos começar pelo glaucoma, que é uma doença silenciosa, ou seja, não apresenta sintomas em estágios iniciais. Já nos estágios avançados, pode provocar redução do campo de visão.
O glaucoma não tem cura, mas pode ser controlado se for diagnosticado e tratado no estágio inicial. Existem diferentes tratamentos, que variam conforme o tipo e estágio da doença. Podem ser medicamentos (colírios), aplicação de laser, cirurgias ou uma combinação destes métodos.
Embora os tratamentos possam prevenir o avanço do glaucoma, eles não podem reverter os danos que foram causados anteriormente. Por isso é tão importante ir ao oftalmologista anualmente para obter um diagnóstico precoce da doença e começar o tratamento o mais cedo possível, o que reduz as chances de perder a visão.
As pessoas com maior risco de desenvolver a doença são as que têm pressão intraocular elevada, alto grau de miopia, são afrodescendentes, estão na terceira idade ou têm algum familiar com glaucoma.
Há também a retinopatia diabética, que atinge mais de 75% das pessoas que possuem diabetes há mais de 20 anos. Ela pode levar à perda parcial ou total da visão se não diagnosticada e tratada. Pacientes com retinopatia diabética nos estágios iniciais costumam não apresentar sintomas. Para que o diagnóstico ainda nessa fase possa ser feito, é necessário ir ao médico oftalmologista periodicamente.
Nos estágios mais avançados, é comum o paciente se queixar de visão turva ou borrada, visão distorcida, manchas na visão, moscas volantes, flashes, perda da visão periférica ou central e perda repentina da visão. E embora não exista cura, a doença pode ser tratada para retardar ou frear sua progressão. Isso é feito com laser, medicação, injeções intraoculares ou cirurgia, conforme o caso.
Já a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é uma das principais causas de perda da visão a partir dos 50 anos. Mais de três milhões de brasileiros são afetados por essa doença. Ela é causada pela degeneração da mácula, a área central da retina, que é responsável pela visão central, leitura e também pela identificação de detalhes e cores.
Um dos sintomas iniciais da DMRI é o embaçamento da visão ou a percepção de que objetos e linhas estão “tortos”. Essas alterações podem, gradualmente, comprometer toda a visão central. A progressão da doença varia de um caso para outro, então, a melhor forma de prevenir é consultar um oftalmologista periodicamente.
Infelizmente, a degeneração macular não tem cura, mas os tratamentos podem controlar a progressão da doença. Eles vão desde suplementos vitamínicos a injeções intraoculares. Se o paciente for diagnosticado precocemente e o tratamento for realizado da forma adequada, a chance de a doença provocar a perda da visão é bem reduzida.
Outra doença importante é a catarata, responsável por 50% dos casos de cegueira no mundo aproximadamente, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela torna o cristalino (lente interna do olho) opaco e deixa a visão embaçada, evoluindo lentamente na maioria dos casos. Ocorre, principalmente, em idosos e a cegueira causada por ela é reversível se for tratada corretamente.
A cura da catarata só é possível por meio de tratamento cirúrgico. Não existe colírio e nem exercícios oculares que previnam ou curem a catarata. Felizmente, com os avanços tecnológicos, a cirurgia de catarata, embora muito delicada, tem se tornado cada vez mais rápida e segura, com sucesso na maioria dos casos.
Após a cirurgia, o paciente vai para casa no mesmo dia, com recomendação de evitar movimentos bruscos e inclinar da cabeça. Nos dias seguintes, os colírios receitados pelo médico oftalmologista devem ser aplicados para afastar o risco de inflamação e infecção ocular. Se o outro olho também tiver catarata, a cirurgia deve ser agendada para depois que o paciente se recuperar da primeira.
As doenças que podem levar à cegueira afetam mais qual faixa etária?
DR. GUILHERME KAPPEL – A maior parte das doenças que causa cegueira e baixa visão acomete adultos e idosos e está associada ao envelhecimento da população. Geralmente, elas afetam as pessoas acima de 60 anos, mas também podem aparecer precocemente em pacientes com fatores de risco.
Essas doenças são mais comuns em homens ou mulheres?
DR. GUILHERME KAPPEL – Essas doenças se relacionam mais com a idade (envelhecimento) do que com o sexo, embora existam dados mostrando que as mulheres têm maior risco de desenvolver doenças que levem à deficiência visual.
Quais dessas doenças que, se tratadas no tempo e do modo corretos, poderiam não evoluir para a cegueira?
DR. GUILHERME KAPPEL – A prevenção é sempre o melhor caminho! Muitas das doenças que podem causar cegueira não têm cura e os danos que elas provocam na visão são irreversíveis. Porém, existem tratamentos para todas, como o caso do glaucoma e da retinopatia diabética. Os tratamentos controlam a evolução da doença, evitando danos severos à visão.
Quanto antes as doenças forem diagnosticadas e devidamente tratadas, maiores são as chances de preservar a acuidade visual do paciente. No caso de doenças que provocam danos visuais reversíveis, como a catarata, é possível ter a visão restabelecida após o tratamento cirúrgico.
O que fazer para prevenir a cegueira?
DR. GUILHERME KAPPEL – O cuidado com a saúde dos olhos deve ser algo diário, assim como são os cuidados com seu corpo. Boa alimentação e hábitos saudáveis contribuem para uma boa saúde ocular. Além disso, é importante fazer um check-up oftalmológico ao menos uma vez por ano ou sempre que a pessoa notar alguma alteração na visão. Os cuidados para proteger a visão nas diferentes fases da vida são os seguintes:
Ainda antes de nascer, com o acompanhamento pré-natal correto durante a gravidez, já é possível evitar doenças que podem levar ao comprometimento da visão do bebê. Algumas delas, como a rubéola e a toxoplasmose, podem causar cegueira e problemas neurológicos na criança.
No recém-nascido, o teste do reflexo vermelho (teste do olhinho), deve ser realizado ainda na maternidade. O exame pode identificar precocemente catarata congênita, problemas na retina e até mesmo câncer ocular. Uma avaliação de rotina com um oftalmologista é recomendada nos primeiros meses de vida, de preferência nos três primeiros. Depois disso, a cada ano.
Entre os seis meses até os cinco anos, deve-se ficar atento com o estrabismo (olho torto) e ambliopia (olho preguiçoso), além dos erros de refração.
Entre os 8 e os 14 anos, os erros de refração, como a miopia e a hipermetropia são os problemas oculares que normalmente acometem as crianças e os pré-adolescentes, sendo necessário corrigi-los.
Na adolescência, é preciso verificar grandes variações de grau e prevenir o ceratocone, evitando o hábito de coçar os olhos.
A partir dos 40 anos, queixas de vista cansada e dificuldade de focalizar algo próximo são mais comuns. Se a pessoa tiver esses sintomas, ela não deve comprar óculos sem prescrição, pois isso pode agravar o problema. É necessário ir ao médico oftalmologista regularmente para prevenir doenças que são mais frequentes depois dos 40, como glaucoma, catarata e problemas relacionados a doenças sistêmicas, como diabetes e hipertensão.
Ao chegar aos 50 anos, a atenção com os olhos deve ser redobrada com exames anuais e prevenção de catarata, glaucoma e doenças de retina. Entre elas, a degeneração macular relacionada à idade.
Com que frequência as pessoas devem ir ao oftalmologista e quais exames devem ser feitos rotineiramente para identificar possíveis causas de cegueira?
DR. GUILHERME KAPPEL – É comum os pacientes acharem que só é necessário ir ao oftalmologista quando não estão enxergando bem ou que a consulta oftalmológica apenas serve para “medir” o grau de seus óculos. Mas isso é um grande erro! O check-up oftalmológico deve ser realizado ao menos uma vez por ano ou conforme orientação de seu médico oftalmologista.
Existem mais de 3.892 doenças oculares que podem afetar os nossos olhos. Desde erros refrativos, como miopia, astigmatismo, hipermetropia e presbiopia, passando por catarata, conjuntivites e alergias oculares, até problemas mais graves, como glaucoma, retinopatias e tumores oculares.
Apenas o médico oftalmologista está habilitado a cuidar das doenças dos olhos. É na consulta oftalmológica que ele tem a chance de detectar precocemente as principais doenças oculares, que incapacitam crianças e adultos para a vida e o trabalho. Caso necessário, poderá solicitar exames complementares.
O Dr. Guilherme Kappel é médico oftalmologista especializado em retina clínica e cirúrgica. Atende na Clínica e Diagnósticos Leforte Liberdade às sextas-feiras, no período da tarde.
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Este conteúdo é meramente informativo e educativo, sendo destinado para o público em geral. Ele não substitui a consulta e o aconselhamento com o médico e não deve ser utilizado para autodiagnóstico ou automedicação. Se você tiver algum problema de saúde ou dúvidas a respeito, consulte um médico. Somente ele está habilitado fazer o diagnóstico, a prescrever o tratamento mais adequado para cada caso e acompanhar a evolução do quadro de saúde do paciente.