Atualmente, o Brasil é o sexto país no mundo com o maior número de pessoas com diabetes – são aproximadamente 16 milhões, com idades entre 20 e 79 anos. A boa notícia é que o diabetes tipo 2, que representa cerca de 90% dos casos, pode ser evitado. O médico endocrinologista Dr. Paulo Rizzo Genestreti, coordenador da equipe de Endocrinologia dos Hospitais Leforte Morumbi e Liberdade, esclarece que o tipo 2 é frequentemente associado a comorbidades como obesidade, hipertensão arterial e alterações nos lipídeos sanguíneos (colesterol ou triglicérides), que podem ser combatidas com um estilo de vida saudável.
O que é diabetes e qual a diferença entre o tipo 1 e tipo 2?
O diabetes é uma condição crônica de alta prevalência global e cuja incidência deve aumentar nas próximas décadas. Estima-se um crescimento dos atuais 430 milhões para 700 milhões de casos até 2045. O Dr. Paulo explica que todas as formas de diabetes têm em comum a hiperglicemia, que é o aumento do açúcar (glicose) no sangue. “Essa hiperglicemia crônica leva a alterações no metabolismo dos carboidratos, gorduras e proteínas, além de complicações vasculares”.
A doença é causada pela falta ou resistência ao efeito da insulina. “É um hormônio fundamental para a vida. Produzida pelo pâncreas, a insulina permite que a glicose presente na circulação (glicemia) possa ser utilizada pelas células do corpo. Uma vez que a glicose entra nas células, ela pode ser usada como energia ou armazenada para uso posterior”, diz o endocrinologista. O que diferencia as diabetes tipo 1 e 2 é o mecanismo que causa a permanência de glicose no sangue:
Diabetes tipo 1 – ocorre quando as células do pâncreas, não produzem o hormônio insulina. Essa é uma condição autoimune que, geralmente, aparece no início da vida.
Diabetes tipo 2 – há uma produção inadequada de insulina, além de uma resistência ao seu efeito. Está relacionada, principalmente, ao estilo de vida e hereditariedade e se desenvolve ao longo do tempo.
- Outros mecanismos responsáveis pelo controle da glicemia estão implicados no desenvolvimento do diabetes tipo 2, como menor produção ou menor efeito dos hormônios intestinais, maior reabsorção de glicose pelos rins e maior produção de glicose pelo fígado.
Quais os fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2?
O Dr. Paulo conta que os fatores que aumentam o risco de diabetes tipo 2 incluem:
- Obesidade;
- Colesterol elevado;
- Sedentarismo;
- Antecedentes familiares de diabetes;
- Mulheres com ovários policísticos;
- Mulheres que tiveram diabetes em gravidez anterior.
Embora a diabetes tipo 2 seja mais comum em adultos, jovens e crianças com esse perfil também podem desenvolver a doença. “Alguns desses fatores podem ser modificados, por exemplo, sedentarismo, dieta e obesidade. Porém, o mesmo não ocorre com outros fatores, como idade, etnia e história familiar”, aponta o médico.
Também faz parte da lista de fatores de risco modificáveis uma condição conhecida como pré-diabetes, um estágio intermediário no qual o açúcar no sangue já está acima dos níveis normais, mas não ao ponto de configurar a doença. O pré-diabetes é diagnosticado quando o exame de curva glicêmica apresenta a seguinte faixa de valores:
- Glicemia de jejum entre 100 mg/dl e menor que 126 mg/dl;
- Glicemia maior ou igual a 140 mg/dl e menor que 200 mg/dl; ou
- Quando o exame de hemoglobina glicada está entre 5.7 e 6.4%.
Nessa fase, ainda é possível reverter o quadro. “Mudanças no estilo de vida com ênfase na perda de peso, associadas ou não a intervenções farmacológicas, são capazes de reduzir o risco de desenvolver diabetes em até 80%”, assinala o Dr. Paulo.
Quais hábitos saudáveis são necessários incorporar na rotina para diminuir as chances de desenvolver a diabetes tipo 2?
Uma vez que o risco de surgimento da diabetes tipo 2 é afetado pelo estilo de vida, manter hábitos saudáveis ajuda a prevenir a doença. O Dr. Paulo explica que “o tratamento tem dois pilares fundamentais: educação em diabetes e mudanças no estilo de vida. Essas mudanças devem não apenas serem alcançadas, mas também mantidas ao longo da vida. Elas incluem a prática de, pelo menos, 150 minutos de atividade física por semana e alimentação rica em fibras, com o mínimo de gordura saturada e baixo teor de sódio”.
Como a diabetes tipo 2 pode ser diagnosticada e qual a importância do diagnóstico e do tratamento precoces?
O Dr. Paulo conta que, apesar do diagnóstico da diabetes ser simples, de 30% a 40% das pessoas que têm essa condição desconhecem o problema. “Isso se deve ao fato de a diabetes frequentemente não apresentar sintomas”. O médico ressalta que o diagnóstico precoce é de extrema importância para que o tratamento seja iniciado o mais breve possível, a fim de evitar ou mitigar as complicações.
“O atraso no diagnóstico e no tratamento adequado pode acarretar uma série de complicações agudas e crônicas. Entre as complicações agudas, podemos citar o coma diabético. Já entre as complicações crônicas, o tratamento inadequado pode levar à cegueira, perda da função renal, amputações, infarto e derrame, entre outras”.
O médico alerta que pessoas sem nenhum fator de risco e assintomáticas devem ser avaliadas para a presença de diabetes a partir dos 45 anos. Também devem ser rastreados regularmente todos os indivíduos com os seguintes fatores de risco:
- Sobrepeso;
- Obesidade;
- História familiar da doença;
- Doenças cardíacas (infarto, hipertensão, derrame, colesterol elevado);
- Mulheres que tenham ovários policísticos;
- Mulheres que tiveram diabetes em gravidez anterior;
- Esteatose hepática (doença caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado);
- Pré-diabetes.
O Dr. Paulo Rizzo Genestreti é especialista em endocrinologia (CNRM-RQE) e Doutor em Ciências (Cardiologia) pelo InCor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Ele é coordenador do Departamento de Doença Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Diabetes e atua na área assistencial e em pesquisa em diabetes, obesidade e doença cardiovascular, sendo investigador em diversos estudos multicêntricos, além de autor e coautor de capítulos de livros e artigos. Foi coordenador editorial da Linha de Cuidado do tratamento do diabetes na atenção básica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e coautor da diretriz de tratamento da hiperglicemia hospitalar e do pré-diabetes da Sociedade Brasileira de Diabetes. Atualmente, o Dr. Paulo é coordenador da equipe de endocrinologia dos Hospitais Leforte Morumbi e Liberdade, Hospital São Luiz – Jabaquara e da telemedicina hospitalar do Grupo Hapvida-NDI.
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