A dislexia é um transtorno de aprendizagem que afeta a capacidade do cérebro em fazer conexões entre sons e símbolos. Normalmente, o distúrbio é percebido em crianças ainda pequenas, até a idade de alfabetização, quando a dificuldade com a leitura e escrita é percebida. Apesar de não ter cura, a dislexia pode ser manejada com diagnóstico precoce e acompanhamento com os profissionais adequados, sem que a criança tenha prejuízos educacionais. O Hospital Leforte, da Rede Dasa, conversou com médica neuropediatra, Dra. Maria Cecília, sobre esses e outros aspectos da dislexia.
O que é dislexia?
A Dra. Maria Cecilia explica que “a dislexia é um transtorno de aprendizagem que envolve essencialmente adaptação para leitura e escrita”. O transtorno tem origem neurobiológica e se caracteriza pela dificuldade em reconhecer, decodificar e soletrar palavras. Os primeiros sinais da dislexia podem ser percebidos ainda na fase pré-escolar. As crianças acometidas podem demorar para começar a falar e/ou demonstrar dificuldades para combinar sons de sílabas e identificá-los em palavras.
Qual a prevalência da dislexia no Brasil e no mundo?
A neurologista afirma que a estimativa mundial é de que cerca de 3,5% da população estudantil possua transtorno de aprendizagem com foco na leitura e escrita. No Brasil, aproximadamente duas milhões de pessoas possuem dislexia.
O que causa a dislexia?
Pesquisadores acreditam que as causas da dislexia estão relacionadas a componentes hereditários e alterações genéticas. Ou seja, alguns genes sofrem modificações e determinam a pouca capacidade de leitura e escrita. Crianças que possuem familiares com dislexia podem ter mais chances de também apresentar o transtorno.
A Dra. Maria Cecilia aponta alguns distúrbios comumente associados à dislexia, que precisam de atenção: “a dislexia é um transtorno do neurodesenvolvimento geneticamente modulado, com transtornos associados frequentes: alterações na aquisição e desenvolvimento da linguagem, que causa problemas na produção da fala, e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), distúrbio neurológico caracterizado por pela dificuldade de foco, inquietude e impulsividade”.
Quais os sintomas da dislexia em diferentes fases da vida?
Segundo a Dra. Maria Cecília, a forma que a dislexia se manifesta depende de alguns fatores. “A expressão de sintomas de transtornos de aprendizagem pode variar com a saúde da criança, sendo necessários estudos neurofisiológicos, oftalmológicos e otorrinolaringológicos. Na dislexia, a visão, audição e cognição podem sofrer alterações e também prejudicar o aprendizado da pessoa afetada”.
De modo geral, os sintomas da dislexia podem ser:
Crianças até a fase de alfabetização
- Lentidão ou hesitação para escolher as palavras e dar nome a letras e desenhos;
- Atraso no desenvolvimento da fala e linguagem;
- Dificuldade em atividades que envolvam palavras ou rimas e combinações de sons, como aprender músicas;
- Inversão de palavras ou sílabas na hora de escrever;
- Falta de interesse em livros;
- Desenvolvimento lento da atenção e coordenação motora.
Crianças e adolescentes durante idade escolar
- Dificuldade em automatizar a leitura e escrita;
- Atraso na entrega de trabalhos e provas;
- Confusão entre direita e esquerda;
- Problemas de coordenação motora, que podem se manifestar em atividades de desenho e pintura ou na prática de esportes;
- Falta de atenção ou de motivação durante as aulas;
- Problemas para consultar dicionário, apostilas, mapas, entre outros materiais;
- Dificuldade em copiar anotações da lousa;
- Vocabulário pobre, com frases curtas e pouco elaboradas ou longas e vagas;
- Dificuldade em aprender outros idiomas;
- Inversão de números ou letras.
Adultos
- Dificuldade em apresentar trabalhos ou conduzir reuniões;
- Demora na leitura de artigos e livros;
- Dificuldade na escrita, com possíveis erros ortográficos e trocas de letras;
- Problemas para anotar enquanto pensa ou acompanha uma reunião/aula;
- Prejuízo emocional devido às dificuldades enfrentadas, como baixa autoestima, isolamento social, comportamento agressivo.
Como é feito o diagnóstico da dislexia? A partir de que idade é possível fazer o diagnóstico?
O diagnóstico da dislexia é feito a partir de uma avaliação multidisciplinar, que envolve neuropsicólogo, psicopedagogo e fonoaudiólogo. Primeiro, o paciente e seus responsáveis passam por um acolhimento, em que são relados os sintomas, comportamento, dificuldades, histórico de vida do paciente e da família. Assim, é possível descartar a presença de outros possíveis transtornos. Caso a suspeita de dislexia seja sustentada, são feitos testes de audição, visão, desempenho cognitivo e fluência verbal. Com base nos resultados, a equipe confirmará ou não o diagnóstico.
A Dra. Maria Cecilia fala sobre o diagnóstico precoce da dislexia: “cada vez mais antecipamos as alterações do neurodesenvolvimento com indicação de técnicas de diagnóstico precoce. No Hospital Leforte, frequentemente encaminhamos crianças com três anos para avaliação neuropsicológica e psicopedagógica para esclarecer transtornos de aquisição e desenvolvimento da linguagem”.
A médica alerta para a importância da conscientização de pais, professores e outros agentes da educação sobre os sinais dos transtornos de aprendizado, para que as crianças com dislexia sejam diagnosticadas precocemente. “Os sintomas característicos podem ser confundidos com preguiça, desânimo, desinteresse ou até mesmo irreverência, mas é preciso que a criança seja encaminhada para um especialista”, aponta.
Como é o tratamento de quem tem dislexia?
A dislexia não tem cura ou remédio. No entanto, a Dra. Maria Cecília afirma que é pode ser preciso tratar possíveis comorbidades que acompanham a criança com dislexia, como o TDAH, por exemplo. “É importante identificar e sinalizar sinais de alerta nas crianças com dislexia e afastar suas comorbidades, para que elas possam receber as estratégias pedagógicas adequadas com direção ao sucesso escolar”, afirma.
Em paralelo, a dislexia é manejada com acompanhamento de psicopedagogo (ou psicólogo com formação escolar) e fonoaudiólogo. Os profissionais ajudarão a criança no processo de leitura e escrito por meio de jogos e exercícios que trabalham a estimulação, memorização e associação. Tratam-se de técnicas que permitem ao cérebro decodificar de maneira diferente os símbolos gráficos na hora de ler e escrever.
A escola também deve ser envolvida no processo de tratamento da criança e adolescente, facilitando o aprendizado. “Mais tempo para realizar provas, assim como ambientes exclusivos e individualizados podem melhorar o desempenho acadêmico”, afirma a médica neurologista.
Qual o impacto que a dislexia pode provocar na pessoa?
A dislexia pode afetar precocemente a saúde mental das pessoas acometidas, levando ao agravamento dos sintomas e maior dificuldade de adaptação. Os prejuízos emocionais mais comuns envolvem baixa autoestima, desregulação emocional, agitação psicomotora, transtornos do sono, TDAH, e outros transtornos psiquiátricos. “Precisamos do diagnóstico precoce para intervenção adaptada e personalizada para cada criança com dislexia”, defende a Dra. Maria Cecilia.
Dra. Maria Cecilia Lopes da Conceição é neuropediatra e especialista na área de pediatria do sono. É médica neuropediatra do Hospital Leforte Morumbi/Grupo DASA e médica do sono da saúde suplementar do Instituto da Criança e do Adolescente-Hospital das Clínicas-Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É médica pesquisadora com atuação associada à Academia Americana de Medicina do Sono, principalmente nos seguintes temas: instabilidade e fragmentação do sono de crianças e adolescentes. Também é pesquisadora executante de projeto de pesquisa na área de sono e psiquiatria infantil no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade São Paulo.
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