Esclareça dúvidas relacionadas a maternidade e câncer

A associação de maternidade e câncer costuma gerar muitas dúvidas e preocupações. Afinal, há casos em que a doença atinge mulheres grávidas ou que ainda desejam engravidar. Como fica a fertilidade e a possibilidade de amamentar após o tratamento estão entre as perguntas mais frequentes sobre o assunto. Para falar sobre o assunto, o Leforte convidou a mastologista, ginecologista e obstetra Patrícia Kajikawa e o ginecologista Gustavo Adolpho de Oliveira, para falarem, respectivamente, sobre câncer de mama e ovário, e esclarecer questões sobre esses dois tipos da doença relacionadas ao universo materno.

 

Maternidade e câncer de mama

 

CÂNCER DE MAMA – o que é e quais são os fatores de risco?

DRA. PATRÍCIA KAJIKAWA – câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, formando um tumor. Esse tumor pode estar somente na mama, nos casos iniciais, ou pode migrar para os gânglios axilares e para outros órgãos, isso é, formar metástases.

São vários os fatores que podem aumentar o risco de desenvolver a doença. Os principais deles são:

  • Genética – mutações em alguns genes que são transmitidas hereditariamente. Porém, somente 5% a 10% dos cânceres de mama são genéticos.
  • Idade – o risco aumenta com o avanço da idade;
  • Fatores comportamentais – como obesidade, sobrepeso, sedentarismo, consumo de bebida alcoólica;
  • Fatores reprodutivos – como não ter tido filhos, não amamentar e uso de hormônios.

 

CÂNCER DE MAMA – quando o câncer de mama é diagnosticado durante a gravidez, quais as implicações disso em relação ao bebê e à mãe?

DRA. PATRÍCIA KAJIKAWA – em geral, as mulheres que são diagnosticadas com câncer de mama na gravidez podem ser tratadas de sua doença sem nenhuma consequência grave para seus bebês. Porém, pode haver algumas mudanças na estratégia de tratamento.

  • Cirurgia – pode ser realizada durante a gravidez com segurança na maior parte das vezes;
  • Quimioterapia – costuma ser evitada nos primeiros três meses da gestação, mas, após essa fase, vários tratamentos quimioterápicos para o câncer de mama podem ser realizados na gestação sem nenhum dano ao bebê;
  • Radioterapia – não é segura em nenhuma fase da gestação e, geralmente, é realizada somente após o parto.

 

CÂNCER DE MAMA – quando a mulher já teve câncer de mama, em quais tipos de tratamentos realizados é possível vir a amamentar depois?

DRA. PATRÍCIA KAJIKAWA – a mulher que já teve câncer de mama e realizou tratamento como cirurgia, quimioterapia e radioterapia, na maioria das vezes pode amamentar. A exceção são as mulheres que realizaram mastectomia bilateral, que é a cirurgia em que se realiza a retirada total das duas mamas. Nos casos em que a paciente realizou mastectomia somente de um lado, ela pode amamentar normalmente da outra mama.

 

CÂNCER DE MAMA – o tratamento para o câncer de mama pode afetar a fertilidade da mulher?

DRA. PATRÍCIA KAJIKAWA – em alguns casos, a quimioterapia para o câncer de mama pode alterar a fertilidade da mulher, diminuindo as possibilidades de gravidez após o tratamento. Assim, atualmente, as mulheres jovens que descobrem o câncer de mama e ainda pretendem ter filhos são orientadas a, antes de iniciar a quimioterapia, procurar um especialista em reprodução humana para avaliar a possibilidade de congelação de óvulos ou embriões. Isso possibilita uma futura gestação após o termino do tratamento.

Mas ressalto que nem todas as mulheres que fazem quimioterapia terão sua fertilidade prejudicada. Muitas delas conseguem engravidar naturalmente após o tratamento do câncer de mama, quando liberadas pelo médico.

 

CÂNCER DE MAMA – o que é possível fazer para prevenir o câncer de mama? A amamentação teria um efeito protetor?

DRA. PATRÍCIA KAJIKAWA – os fatores de proteção ao câncer de mama são:

  • Alimentação saudável;
  • Prática regular de atividades físicas;
  • Evitar sobrepeso e obesidade;
  • Evitar consumo de bebida alcóolica;
  • Ter filhos e amamentar por pelo menos 12 meses também são fatores de proteção ao câncer de mama.

 

Maternidade e câncer de ovário

 

CÂNCER DE OVÁRIO – o que é?

DR. GUSTAVO ADOLPHO DE OLIVEIRA – o câncer de ovário é um dos mais graves dentro da ginecologia. É o mais difícil de ser diagnosticado, e aquele com menores chances de cura.

Em relação à incidência, é o sétimo câncer mais comum em mulheres nos Estados Unidos, representando 3% de todos os tipos de câncer, 6% das mortes por câncer em mulheres e quase um terço dos cânceres invasivos dos órgãos genitais femininos. Ele é a quinta maior causa de morte por câncer em mulheres naquele país.

No Brasil, o câncer de ovário também responde por 3% de todos os tipos, porém com 3,6% de mortes, sendo o nono em mortes por câncer entre as mulheres. Os dados são do Instituto Nacional de Câncer (INCA), de 2020.

 

CÂNCER DE OVÁRIO – é possível fazer o rastreamento do câncer de ovário para diagnosticá-lo precocemente?

DR. GUSTAVO ADOLPHO DE OLIVEIRA – o rastreamento em câncer de ovário ainda carece de mais estudos. Infelizmente, o diagnóstico ainda acontece, em cerca de 75% dos casos, na fase tardia da doença, quando as chances de sobrevida e cura são extremamente baixas. Um estudo de 2021, realizado no Reino Unido com cerca de 200 mil mulheres, não conseguiu provar que o rastreamento consegue ser eficaz para detectar a doença de forma mais precoce ou melhorar a sobrevida dessas pacientes.

 

CÂNCER DE OVÁRIO – quais são os fatores de risco?

DR. GUSTAVO ADOLPHO DE OLIVEIRA – os fatores de risco para o câncer de ovário são:

  • Histórico familiar de câncer de mama ou de ovário, principalmente este último;
  • Ter feito terapia de reposição hormonal na menopausa;
  • Ter Síndrome de Lynch;
  • Tabagismo;
  • Obesidade;
  • Nuliparidade (nenhuma gestação prévia).

 

Já os fatores protetores, isso é, que reduzem o risco de câncer de ovário, estão relacionados a ciclos anovulatórios:

  • Gestações prévias (inclusive abortamentos, conforme evidenciado em estudo de março de 2021);
  • Uso de contraceptivos que inibem ovulação (pílulas, injetáveis, adesivos e anel vaginal).

 

CÂNCER DE OVÁRIO – como é o tratamento?

DR. GUSTAVO ADOLPHO DE OLIVEIRA – o tratamento é baseado em cirurgia e quimioterapia. Como a maioria dos casos é detectada em estágios mais avançados, geralmente é necessário realizar a retirada do útero, ovários, trompas, gânglios (ínguas) da pelve e abdome, apêndice em alguns casos e uma parte da gordura abdominal, conhecida como omento. Após a cirurgia, é realizada a quimioterapia (exceto quando a doença está em estágio inicial).

 

CÂNCER DE OVÁRIO – como o tratamento do câncer de ovário pode afetar a fertilidade?

DR. GUSTAVO ADOLPHO DE OLIVEIRA – depende do estágio da doença no momento do diagnóstico. Em grande parte dos casos, infelizmente, a fertilidade é comprometida devido à necessidade de retirada dos órgãos pélvicos e, também, pela própria quimioterapia, que pode impedir que a mulher tenha ovulações após este tratamento.

Entretanto, nos estágios iniciais da doença a fertilidade pode ser preservada, mesmo com a retirada dos ovários. Se o útero for mantido, é possível realizar o congelamento de óvulos para uma gestação posterior ao tratamento.

Nesse caso, é imprescindível que os óvulos sejam coletados para congelamento antes do início do tratamento. Após a coleta, a paciente realiza a cirurgia para a retirada do ovário acometido (ou de ambos os ovários) e, se necessário, faz a quimioterapia. Após o seguimento apropriado, com o controle adequado da doença, ela poderá resgatar seus óvulos para realizar a fertilização in vitro (FIV), único método possível neste caso.

Espera-se em torno de cinco anos após o final do tratamento (cirurgia ou quimio, o que vier por último) para a FIV, pois, se neste período não houver recidiva da doença, a mulher tem mais segurança para tentar a gestação.

Dra Patricia Kajikawa

A Dra. Patrícia Kajikawa é graduada pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui título de especialista em Mastologia e em Ginecologia e Obstetrícia pela Associação Médica Brasileira. Ela atende na Clínica e Diagnósticos Leforte Liberdade, às quintas-feiras, na parte da manhã.

Dr Gustavo Adolpho de Oliveira

O Dr. Gustavo Adolpho de Oliveira é especialista em endoscopia ginecológica pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e em ginecologia oncológica pelo Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC). Referência em videolaparoscopia no Hospital Leforte Liberdade, ele atende na Clínica e Diagnósticos Leforte Liberdade, às segundas e terças-feiras, das 8h às 18h.

Este conteúdo é meramente informativo e educativo, sendo destinado para o público em geral. Ele não substitui a consulta e o aconselhamento com o médico e não deve ser utilizado para autodiagnóstico ou automedicação. Se você tiver algum problema de saúde ou dúvidas a respeito, consulte um médico. Somente ele está habilitado fazer o diagnóstico, a prescrever o tratamento mais adequado para cada caso e acompanhar a evolução do quadro de saúde do paciente.
Testemunhos

Gostaríamos de agradecer ao Dr Pierry Louys Batista, em nome de todos os pediatras, toda equipe assistencial, de atendimento, segurança, higiene e do laboratório Delboni, pois percebemos que houve a verdadeira hospitalidade que todos falam, mas poucos exercem: a de fora dos livros.

Gustavo Ambrósio Tenório

Equipe de enfermagem muito bem preparada, atenta e disponível para qualquer chamado. Muito educada e cordial também, por exemplo, sempre ao entrar no quarto os enfermeiros avisavam meu pai que a luz seria acesa, não acendendo diretamente na “cara” da pessoa, que estava despreparada.

Antônio Rafael de Carvalho